Pe. Claudio Pighin

A pandemia ajoelhou a humanidade


A tragédia planetária da pandemia covid-19 nos questiona em todas as nossas perspectivas de vida. Para eu voltar ao Brasil, consegui ser vacinado. No entanto, para viajar, tive que me submeter a dois testes: um molecular – PCR – dentro de 72 horas antes da viagem, e um teste rápido no aeroporto de partida. A segurança estava acima de qualquer exigência pessoal, porque não se pode colocar em risco ninguém se, por acaso, tiver o contágio. Na Itália, pude experimentar o rigor para tentar evitar esse contágio do vírus. Agora que cheguei ao meu Brasil, pude ver também o quanto esse vírus o desestabilizou.

Fiquei impressionado, em várias oportunidades, ao ver aglomeração de pessoas, gente que não usa máscaras ou usa de modo errado ou não respeita as regras de distanciamento. Fiquei triste em saber das muitas pessoas conhecidas que vieram a falecer. Essa pandemia vitimou vários padres no Brasil, e, conforme informações dadas pela CNBB, 69 sacerdotes já morreram até agora. Pude constatar também como as pessoas se fragilizaram e, às vezes, se sentiram ‘perdidas’. Aí, surgiu, espontaneamente em mim, essa pergunta: Oh, meu Deus, por que tudo isso?

Com certeza, essa pandemia nos coloca perante uma necessidade de perspectiva de vida que o ser humano possa reconstruir e redefinir os modos fundamentais de viver. Precisamos rever a interdependência entre a natureza e a cultura, porque elas são estritamente interligadas. Quando pensamos em percorrer um caminho cultural, sem nos questionar até que ponto é ligado à natureza, podemos entrar em choques de convivência. E isto não ajuda a nossa vida, pode até prejudicá-la. Pense bem: a humanidade está cheias de histórias de pandemias. Contudo, essa de Covid-19 me parece que é o primeiro caso que envolve uma imensa parte da humanidade.

E, por isso, tudo isso nos chama em questão por causa das nossas opções sociais, políticas e econômicas. De fato, a interdependência em não respeitar o meio ambiente e os modos de avanço de vida produzem infecções que podem até gerar epidemias. Nesse sentido, podemos classificar que o desmatamento selvagem, a mudança climática e a constante exploração do solo para a intensificação e concentração urbana das grandes cidades no planeta são exemplos dessa interdependência de conflitos de convivência. Essa pandemia de covid-19, repito, nos mostrou quantos somos vulneráveis, frágeis.

Portanto, precisamos refletir bastante sobre o ser humano, sobre os nossos desafios e os imprevistos que poderiam surgir. É bom que fique evidente que nós somos corpos, que a terra não nos pertence, mas nós pertencemos a ela. Nós não somos donos de nada, mas, sim, colaboradores. Essa pandemia põe em questionamento a nossa maneira de pensar e agir. Efetivamente, nós acumulamos toda uma evolução cultural e da natureza. Assim sendo, não podemos agir como fossemos os patrões do cosmo, do mundo e tanto menos da criação. É necessário resgatar o quanto antes uma humanidade que seja irmã do nosso pequeno planeta. O papa Francisco nos recomenda evitar: “a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses, de se concentrar apenas no perfil econômico, de viver hedonisticamente, ou seja, buscando apenas satisfazer o próprio prazer”.