Pe. Claudio Pighin

A realidade dos fiéis


Uma pesquisa sobre religião, teoria e prática, realizada em 2001, com jovens e adultos de bairros de Belém indicou que muitas pessoas passaram a frequentar as Igrejas evangélicas. As mais frequentadas são Universal, Seitas Pentecostais, Assembleia de Deus e Quadrangular. Apesar da maioria dos entrevistados ser da religião católica, ficou evidente, ou quase, o grande desconhecimento sobre a Igreja. De questões mais simples de catequese como os dez mandamentos e os sacramentos da Igreja, até questões mais profundas da Igreja como o funcionamento da paróquia, a maioria dos entrevistados mostrou desconhecimento.

O importante que a pesquisa desnudou foi uma tendência cada vez maior de fiéis não praticantes que, na verdade, conhecem pouco ou quase nada da Igreja que participam. Dizem-se católicos por tradição da família ou por influência de terceiros, mas em geral vão à missa eventualmente nos momentos de festa da Igreja. Isso indica que há uma massa de pessoas que se dizem católicas, mas não praticam os ensinamentos doutrinais.

Destaca-se na pesquisa uma maioria de jovens, em geral de famílias de classe baixa, que vive de 1 a 3 salários mínimos. Os dados indicam uma tendência clara dos jovens para o desapego ao modelo eclesial tradicional que não responde mais as exigências do mundo contemporâneo. O fato da Igreja Católica no Brasil, nos últimos 10 anos, ter investido mais na construção de um estilo de Igreja que valoriza muito mais o louvor, com aspectos espiritualistas, em detrimento da vivência de uma espiritualidade libertadora que engaja as pessoas em pequenas comunidades e paróquias é um dos fatores que incidem nessa mudança.

A prática recente de querer tão somente encher as paróquias sem processo de formação catequética e eclesial coloca a Igreja Católica na direção de dois dilemas: manter o número de católicos atual, mesmo considerando que a grande maioria sabe quase nada da instituição, e investir na espiritualidade que não liberta para manter fiéis que não conhecem nada da doutrina da Igreja, portanto, incapazes de construir uma Igreja engajada e libertadora.

É importante destacar que ao não se interessar por esses problemas que consideramos serem cruciais para o avanço da Igreja Católica, entendemos que se coloca em crise uma instituição histórica que, de pouco a pouco, perde espaço para as seitas e as outras Igrejas cristãs.
A pesquisa é reveladora de uma situação que precisa ser enfrentada pelos líderes católicos: declínio do número de fiéis que migram para outras Igrejas e crenças; e o aumento cada vez maior de jovens que são católicos não por terem paixão e acreditarem na doutrina da Igreja, mas tão somente por uma questão familiar e outras que advém, como a não exigência de participar da Igreja seguindo os ensinamentos e respeitando a sua doutrina.

As motivações missionárias, evangélicas, paixão pelo paradigma de Igreja Católica, aceitação da simbologia, do discurso, cada vez mais seduzem menos e influenciam pouco na vida dos católicos que encontram poucas respostas para justificar a sua fé em um modelo de Igreja do qual sabem pouco ou quase nada. Depois de 19 anos esta pesquisa é ainda válida? Tem algo que melhorou ou piorou? Eis as questões!