Pe. Claudio Pighin

A superficialidade comunicativa destrói o diálogo


Em meu cotidiano, tenho observado atentamente o modo como as pessoas se expressam, o jeito de falar, o uso das palavras e, semanticamente, chego a conclusão de que existe muita superficialidade ou impropriedade nos discursos. Percebo que tal maneira de comunicar, por vezes leviana, torna-se um grande obstáculo para o diálogo e recepção de conteúdos. Isso é preocupante porque uma linguagem imprópria distorce a realidade e, ao mesmo tempo, cria no próprio imaginário inverdades como se fossem verdades.

Inúmeras vezes, pessoas me relatam falas escandalosas de figuras públicas. Eu procuro saber, imediatamente, a fonte das declarações. Certa ocasião, com toda firmeza, um informante puxou as ditas declarações na internet e me disse: “Está aqui, padre, aquilo que lhe falei”. Então, eu lhe respondi: “Vamos escutar atentamente a fala”. E eu acrescentei: “cadê aquilo que você me disse? Aqui não encontro isso”. Mas ele me respondeu: “Padre, a palavra em si não tá, mas eu interpreto desse jeito e, portanto, é um que não presta.”

Conforme aqui dito, é evidente que a realidade das coisas somos nós que a interpretamos e criamos, portanto, é subjetiva. Neste caso, o emissor falou daquele jeito e, segundo quem ouviu, não respeitou a fidelidade da mensagem e, assim, a distorceu. Assim sendo, revela-se que não existe uma sintonia entre quem fala e quem escuta. Desta forma, podemos criar os amigos, os opositores, aqueles que prestam e não prestam. Só para se ter uma ideia, numa frase, pode-se isolar umas palavras e manipulá-las para os próprios fins, não respeitando o verdadeiro conteúdo da frase. A história está cheia disso.

A esse respeito, também as Sagradas Escrituras nos podem ajudar a enfrentar as distorções de interpretações que não respeitam a fidelidade das mensagens produzidas. Por exemplo, em Provérbios (12,22), diz-se o seguinte: “O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade.” Para podermos nos sintonizar uns com os outros, devemos buscar, da melhor maneira possível, a objetividade; e isto não é fácil, mas pelo menos podemos ser transparentes nas nossas manifestações, tanto como comunicadores quanto como receptores.

O livro dos Provérbios (6, 16-19) também nos alerta: “Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos.” Tudo isso nos convida a termos uma linguagem que construa e ajude a fortalecer a nossa solidariedade e fraternidade.

Quando usamos uma linguagem subjetiva, isto é, que não vai além do próprio ‘eu’, poderemos alimentar o egoísmo, o fundamentalismo e fazer da realidade uma mera ilusão. Que perigo! Será difícil assim construir a paz. Ainda nos Provérbios (21, 6), uma declaração bem forte e expressiva: “A fortuna obtida com língua mentirosa é ilusão fugidia e armadilha mortal.” Como melhorar essa conduta da fala e recepção de mensagens para não criar danos ao nosso redor? Creio que seja importante a prudência, refletir antes de falar, deixar um momento de silêncio para ponderarmos melhor a confecção das mensagens, tanto como comunicador quanto como receptor. A superficialidade mata!