Pe. Claudio Pighin

A visita aos nossos mortos


Dia dos finados, dia de visita aos cemitérios. Como é bom relembrar, rezar pelos parentes, amigos que faleceram. Relembrar e homenagear a vida deles é reviver mais intensamente a nossa vida, a nossa peregrinação terrena.

Refletir sobre a morte significa experimentar o profundo silêncio da vida. Um silêncio sem resposta, angustiante, gélido e ameaçador. O ser humano, perante ela, sente-se totalmente só. Nós temos consciência de que deveremos morrer, é isto que mais nos dá medo, não tanto a morte em si. Nós, cristãos, como enfrentamos essa realidade humana? Nós, seguidores de Jesus, como reagimos perante o fato de morrer?

O morrer faz parte da vida humana. A mesma morte se torna um instrumento de vida. Parece um absurdo aquilo que estou escrevendo, mas a verdade é isso mesmo, porque, sem a morte, como teríamos acesso definitivo para a vida que somos chamados?

Quando as pessoas nascem, elas não têm consciência daquilo que está acontecendo. Somente no decorrer de suas vidas vão adquirindo conhecimento e se conscientizando da natureza e da existência humana. Com a morte, cessa essa conscientização. Por isso, nascer e morrer são uma entrega total de si. Os poderes humanos assim, no começo e no fim, se limitam a uma total dependência que garantem a sua promoção de vida. Quem nos ajuda a compreender melhor isso é o nosso único Mestre Jesus, que, com as suas palavras e o seu testemunho, nos dá uma resposta definitiva sobre essa confiança em depender do Deus da vida.

Não temos outras respostas no curso histórico da humanidade. Nesse sentido, lendo a Bíblia, podemos entender melhor tudo isso. O Antigo Testamento nos revela que Deus quer estabelecer uma relação pessoal com o próprio povo. Está escrito em Amós (5,4): “Procurai-me e vivereis.” Assim sendo, é uma relação de confiança do povo com o seu Deus. Um Deus que garante a vida. Porém, as pessoas têm que fazer uma opção de obediência a Ele, que garante a vida, ou de desobediência, que leva a morte.

Desde o começo da Bíblia, fala-se também da morte. Porém, não como projeto de Deus. Deus criou tudo para a vida. Por que, então, a morte? O livro do Gênesis nos mostra que pode acontecer a morte na medida em que o ser humano fique longe Dele. Assim diz a Palavra de Deus: “Mas não pode comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza você morrerá (Gn 2,17).” Fica bem claro, portanto: perdendo a comunhão com Deus, compromete-se a vida. É essa obediência a Ele que nos afasta da morte. Nesse sentido, se a morte foi criada, certamente não foi Deus, mas, sim, o próprio ser humano.

Deus é somente o Senhor da vida. Nisso consiste o pecado do ser humano de ter ameaçado o poder da vida, que pertence a Deus. Consequência de tudo isso: chegada da morte. Então acendemos as velas nos cemitérios para acender a luz da nossa esperança na vida que Deus nos oferece.