Pe. Claudio Pighin

As pessoas e a internet


A internet está cada vez mais inteligente? Este é o questionamento de muita gente hoje, no terceiro milênio. O famoso Marshall McLuhan (1911-1980), canadense, ‘profeta’ da comunicação, tinha previsto, já no ano 1962, que o “próximo meio teria sido a extensão da consciência, e a internet representaria de fato esta grande extensão que contem memória e inteligência.

 

Que a televisão iria se tornar uma forma de arte, e o YouTube não a poderia representá-la, enquanto colocada à disposição para cada um de nós, transformando em arte e emoção global. O sonho de Marx se realizou: a apropriação de um instrumento à disposição de todos”.

 

Esta previsão perspicaz nos surpreende e nos interpela mais ainda para aprofundar tal debate. Certamente, não se pode dizer que a internet está cada vez mais inteligente, no entanto, que é uma “ação orquestrada entre os seres humanos e Web (rede de alcance mundial). Esta combinada ação dos dois elementos pode dar início a um princípio de inteligência superior a cada uma das partes.

 

Com certeza, não podemos parar aquela fome de se conectar à rede, o desejo de ficar ligados à telinha, mas é possível incorporar aquela necessidade de uma fusão efetiva da tecnologia com o corpo, para fazer daquela conexão, por meio da tecnologia, uma ligação física”.

 

E nesta época de explosão tecnológica surgem diversas perguntas e questionamentos que poderíamos resumir desta forma: quando os sentimentos podem ser programados, podemos, na verdade, acreditar naquilo que nos dizem do mundo? Esta mudança de época pode transformar profundamente a vida do ser humano?

 

Continuando com McLuhan, o computador teria sido, segundo o pesquisador, o próximo “sistema de pesquisa e de comunicação” e teria capacidade de “melhorar o resgaste da informação e tornar ociosa a organização da biblioteca”.

 

Além de desenvolver uma “função de enciclopédia” e de se transformar numa “versão privada para transmitir dados”. Atualmente, nós entramos, segundo Derrick de Kerckhove, (Wanze, 30 maio 1944) um crítico literário belga naturalizado canadense, e que trabalhou com Marshall McLuhan por mais de 10 anos como tradutor, auxiliar e co-autor, “na terceira idade da linguagem. A primeira é representada pelo reino da oralidade, baseada sobre os relacionamentos face a face e sobre a qualidade de ser sociável.

 

A segunda, a era da escrita, cria uma nova situação: a linguagem é revelada, colocada sob o controle do leitor de maneira que pode gerar uma mudança entre comunidade e a pessoa, que toma o poder sobre a linguagem e escreve o seu destino. Com a passagem à eletrônica, pelo contrário, na terceira era, a linguagem se mistura ao nosso ser.

 

Agradecendo à digitalização, nos tornamos criadores e atores da linguagem, mas somos também condicionados pela possibilidade de rastreamento. Por fim, o Ipad nos leva ao tato, revertendo o pensamento do século de Freud, no qual o homem tem medo do seu corpo e o olho prevalece sobre o tato”.