Pe. Claudio Pighin

Cantarei a bondade e a justiça


Qual é autonomia da ação do ser humano no âmbito da criação? Qual é o espaço da liberdade humana no contexto da criação? É livre? De fato, vivemos em um tempo em que a ação do ser humano tem sempre mais condições de modificar a realidade criada. Que sentido tem esse agir humano (livre e responsável) no contexto da criação feita por Deus? Para onde deve se encaminhar a criatividade humana? Essas perguntas nos levam a entender o papel das pessoas. E o salmo 100, das Sagradas Escrituras, nos ajuda a dar algumas respostas a tudo isso. Quem faz a experiência de Deus na vida pode dizer que, através do louvor ao Senhor e o comportamento que não se confunde com o mal, poderá ter uma melhor compreensão no âmbito da criação. Agindo corretamente e louvando Deus não podemos confundir a nossa vida. Leia o que diz o salmo:

“Cantarei a bondade e a justiça. A vós, Senhor, salmodiarei. Pelo caminho reto quero seguir. Oh, quando vireis a mim? Caminharei na inocência de coração, no seio de minha família. Não proporei ante meus olhos nenhum pensamento culpável. Terei horror àquele que pratica o mal, não será ele meu amigo. Estará sempre longe de mim o coração perverso, não quero conhecer o mal. Exterminarei o que em segredo caluniar seu próximo. Não suportarei homem arrogante e de coração vaidoso. Meus olhos se voltarão para os fiéis da terra, para fazê-los habitar comigo. Será meu servo o homem que segue o caminho reto. O fraudulento não há de morar jamais em minha casa. Não subsistirá o mentiroso ante meus olhos. Todos os dias extirparei da terra os ímpios, banindo da cidade do Senhor os que praticam o mal.”

Este salmo pode ser rezado sempre, porque ajuda a enfrentar o reto comportamento do dia a dia da vida. O que ele focaliza? Em primeiro lugar põe em evidência o aspecto chamado ‘moral’ da vida humana. O salmista é rigoroso em focalizar um comportamento severo em cumprir integralmente as leis de Deus e saber ouvir a própria consciência. No caminho, na ‘inocência de coração’, o mesmo Deus vai ao seu encontro e faz de tudo para sustenta-lo. Um Deus presente e forte para o seu fiel. Naturalmente, o compromisso do fiel é tal que se opõe firmemente à injustiça e ao mal: “Terei horror àquele que pratica o mal, não será ele meu amigo”.

Além disso, tem outro aspecto que se evidencia no compromisso social: “Meus olhos se voltarão para os fiéis da terra”. É um combate contra a calúnia e o falso testemunho nos tribunais, demonstrando uma hostilidade às classes poderosas e, ao mesmo tempo, uma defesa para os pobres indefesos e os justos. Tudo isso revela um grande compromisso para eliminar as injustiças e o mal que imperam na vida da sociedade. É um programa de justiça que quer imitar a ação de Deus na sociedade. E o final, descrito como uma cruel violência, um derramento de sangue, que gera certa inquietude nas pessoas, não é nada mais que um gênero literário muito usado no Oriente.

Na verdade, é uma expressão semítica, adjetivo que se refere aos povos que tradicionalmente falaram línguas semíticas entre os quais os árabes e hebreus, de um sério e determinado compromisso para combater e eliminar o mal, a injustiça e a malvadez humana. Este salmo, eu creio, que ainda é atual. Precisamos combater o veneno da ambição que nega o outro, da soberba que radicaliza o egoísmo. E não só: lutar para que os poderes busquem sempre o bem das pessoas, na verdade e na justiça. O papa Francisco no dia 23 de outubro 2013, Dia Mundial das Missões, falou o seguinte: “A luta contra o mal é dura e longa, requer paciência e resistência”.

E continuou o pontífice: “Clamar dia e noite’ a Deus! Impressiona-nos esta imagem da oração. Mas vamos nos perguntar: por que Deus quer isso? Ele já não conhece as nossas necessidades? Que sentido tem ‘insistir’ com Deus? Esta é uma boa pergunta, que nos faz aprofundar um aspecto muito importante da fé: Deus nos convida a rezar com insistência, não porque não sabe do que precisamos, ou porque não nos ouve. Pelo contrário, Ele ouve sempre e sabe tudo sobre nós, com amor”… “Nós lutamos com ele ao lado, e a nossa arma é precisamente a oração, que nos faz sentir a sua presença, a sua misericórdia, a sua ajuda”. O Senhor está conosco e, portanto, canta a sua bondade.