Pe. Claudio Pighin

Celebrai o senhor, aclamai o seu nome!


O salmo 104, das Sagradas Escrituras, apresenta a história de salvação que Israel canta na liturgia. É um salmo bem resplandecente e pleno de confiança na ação redentora de Deus. É um hino que revela toda a sua rejeição ao pecado que prejudica a vida. É, em síntese, uma exaltação da história de salvação de Israel.

“Aleluia. Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, apregoai entre as nações as suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos, anunciai todas as suas maravilhas. Gloriai-vos do seu santo nome; rejubile o coração dos que procuram o Senhor. Recorrei ao Senhor e ao seu poder, procurai continuamente sua face.

Recordai as maravilhas que operou, seus prodígios e julgamentos por seus lábios proferidos, ó descendência de Abraão, seu servidor, ó filhos de Jacó, seus escolhidos! É ele o Senhor, nosso Deus; suas sentenças comandam a terra inteira. Ele se lembra eternamente de sua aliança, da palavra que empenhou a mil gerações, que garantiu a Abraão, e jurou a Isaac, e confirmou a Jacó irrevogavelmente, e a Israel como aliança eterna, quando disse: Dar-te-ei a terra de Canaã, como parte de vossa herança. Quando não passavam de um reduzido número, minoria insignificante e estrangeiros na terra, e andavam errantes de nação em nação, de reino em reino, não permitiu que os oprimissem, e castigou a reis por causa deles. Não ouseis tocar nos que me são consagrados, nem maltratar os meus profetas. E chamou a fome sobre a terra, e os privou do pão que os sustentava. Diante deles enviara um homem: José, que fora vendido como escravo. Apertaram-lhe os pés entre grilhões, com cadeias cingiram-lhe o pescoço, até que se cumpriu a profecia, e o justificou a palavra de Deus. Então o rei ordenou que o soltassem, o soberano de povos o livrou, e o nomeou senhor de sua casa e governador de seus domínios, para, a seu bel-prazer, dar ordens a seus príncipes, e a seus anciãos, lições de sabedoria. Então Israel penetrou no Egito, Jacó foi viver na terra de Cam. Deus multiplicou grandemente o seu povo, e o tornou mais forte que seus inimigos. Depois, de tal modo lhes mudou os corações, que com aversão trataram o seu povo, e com perfídia, os seus servidores. Mas Deus lhes suscitou Moisés, seu servo, e Aarão, seu escolhido. Ambos operaram entre eles prodígios e milagres na terra de Cam. Mandou trevas e se fez noite, resistiram, porém, às suas palavras. Converteu-lhes as águas em sangue, matando-lhes todos os seus peixes. Infestou-lhes a terra de rãs, até nos aposentos reais. A uma palavra sua vieram nuvens de moscas, mosquitos em todo o seu território. Em vez de chuva lhes mandou granizo e chamas devorantes sobre a terra. Devastou-lhes as vinhas e figueiras, e partiu-lhes as árvores de seus campos. A seu mandado vieram os gafanhotos, e lagartas em quantidade enorme, que devoraram toda a erva de suas terras e comeram os frutos de seus campos. Depois matou os primogênitos do seu povo, primícias de sua virilidade. E Deus tirou os hebreus carregados de ouro e prata; não houve, nas tribos, nenhum enfermo. Alegraram-se os egípcios com sua partida, pelo temor que os hebreus lhes tinham causado. Para os abrigar Deus estendeu uma nuvem, e para lhes iluminar a noite uma coluna de fogo. A seu pedido, mandou-lhes codornizes, e os fartou com pão vindo do céu. Abriu o rochedo e jorrou água como um rio a correr pelo deserto, pois se lembrava da palavra sagrada, empenhada a seu servo Abraão. E fez sair, com júbilo, o seu povo, e seus eleitos com grande exultação. Deu-lhes a terra dos pagãos e desfrutaram das riquezas desses povos, sob a condição de guardarem seus mandamentos e observarem fielmente suas lei.”

Pela primeira vez nos salmos, ouve-se a palavra ‘aleluia’, aclamação festiva da liturgia e, nesse caso, uma liturgia de louvor. O hino é uma reflexão de louvor sobre o Credo de Israel, um Credo não feito de intelectualismo ou de elucubração mental, mas de ações históricas de Deus na vida do seu povo.

Essas ações se concentram em cinco pilares: a ‘aliança’, com os patriarcas do seu povo, a história de ‘José’ no Egito, as pragas do Egito, o êxodo da escravidão do Egito e, por fim, a chegada à terra prometida. No entanto, a respeito das dez pragas narradas pelo livro do Êxodo aqui, no salmo, temos somente oito pragas. Este salmo é uma releitura da história sagrada do ponto de vista divino. Deus entra na história da humanidade para conduzi-la e o fiel, assim, descobre a presença de Deus. Um Deus que serve o seu povo porque o ama. E justamente para a graça da terra e da liberdade exige como resposta que se observem as Leis reveladas por Deus. Portanto, ter a terra significa tanto o lugar de possuir os bens e da libertação física e social quanto o lugar espiritual de seguir a Deus na justiça.