Pe. Claudio Pighin

Como me perseguiram desde a minha juventude!


O salmo 128 das Sagradas Escrituras revive o passado. Recorda um tempo cruel e sofrido para Israel quando o rei Nabucodonosor conquistou Jerusalém e a destruiu. Era o ano 586 antes de Cristo. O fiel resgata esse momento histórico como se fosse ele a figura principal. No entanto, o associa ao seu povo Israel, qual verdadeiro protagonista. De fato, o hino é uma queixa nacional que vira um protesto misturado pela dor, lágrimas e fortes emoções.

Ao mesmo tempo, o salmo revela a confiança que Deus vai intervir em favor do seu povo: “Mas o Senhor é justo, ele cortou as correias com que me afligiram os maus. Sejam confundidos e recuem todos os que odeiam Sião.” Na primeira parte do salmo, relembra-se a juventude de Israel, isto é, um passado de dor, sofrimento pela opressão dos inimigos. E o autor descreve essa opressão e tortura dos perseguidores que os venceram com os símbolos da agricultura: “Lavraram sobre o meu dorso os lavradores, nele abriram longos sulcos.”

Aqui está a grande novidade dos justos: o Deus que eles confiam se torna presente, fazendo justiça contra os opressores. É Deus o verdadeiro libertador deles e não as estratégias e poderes deles. O autor tudo expressa com a imagem agrícola da colheita e diz: “Que eles se tornem como a erva do telhado, que seca antes de ser arrancada. Com ela não enche as mãos o ceifador, nem seu regaço quem recolhe os feixes.” Por que o autor diz ‘como a erva do telhado’? Porque os telhados das casas da Palestina daquele tempo muitas vezes eram cobertas de terra batida.

Naturalmente, quando chovia, grelava erva. Mas, devido a pouca terra, não tinha possibilidade que germinasse nada. Assim sendo, nenhum ceifador podia tirar frutos daquele local: “Com ela não enche as mãos.” E a partir desse exemplo faz a comparação do destino dos inimigos do povo de Israel: que são iguais a erva seca, sem fruto, sem futuro. Perante uma cena estéril como essa, aqueles que enxergam tudo isso irão ironizar, achar graça e caçoa-los. É uma maldição que se precipita contra os inimigos de Israel.

Efetivamente, quando se participa de uma colheita rica e abundante se glorifica Deus e se pede que nunca venha faltar tanta fartura assim. No entanto, perante a frustrada ceifa dos perseguidores, inimigos, não se pode invocar a bênção de Deus: “Desça sobre vós a bênção do Senhor!”. Nem: “Nós vos abençoamos em nome do Senhor.” Com essa certeza que o juízo de Deus vai prevalecer na humanidade se conclui esta lamentação do povo de Israel, que na tradição cristã se tornou o hino do Cristo torturado e crucificado.

O salmista ainda proclama: “O Senhor é justo, ele cortou as correias com que me afligiram os maus.” E o papa Francisco durante a Missa na casa Santa Marta de 26.02.18 disse: “Sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso. E mais: sejam generosos. Dai e vos será dado. O que me será dado? Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. A abundância da generosidade do Senhor, quando nós seremos plenos da abundância da nossa misericórdia”.

* Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.E-mail: clpighin@claudio-pighin.net