Pe. Claudio Pighin

Confio em deus


A violência parece aumentar a cada dia. Essa é a reclamação das pessoas, que ganha repercussão na imprensa e também nas redes sociais. Todos os dias, ouço lamentos de gente que está apavorada e se sente mais vulnerável. A nossa convivência está ameaçada a partir dos lares e se estende até nas instituições e vida social. Eu me pergunto: por que tudo isso? Por que as pessoas vivem dramaticamente a vida do dia a dia? Eu tenho certeza absoluta que tudo isso é fruto da mesma humanidade e a mesma humanidade pode reverter esse cenário dramático. Como fazer isso? Quem nos pode ajudar a abrir horizontes de paz é esse salmo, 24, do Antigo Testamento. Leia atentamente:

“Para vós, Senhor, elevo a minha alma. Meu Deus, em vós confio: não seja eu decepcionado! Não escarneçam de mim meus inimigos! Não, nenhum daqueles que esperam em vós será confundido, mas os pérfidos serão cobertos de vergonha. Senhor, mostrai-me os vossos caminhos, e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade e ensinai-me, porque sois o Deus de minha salvação e em vós eu espero sempre. Lembrai-vos, Senhor, de vossas misericórdias e de vossas bondades, que são eternas. Não vos lembreis dos pecados de minha juventude e dos meus delitos; em nome de vossa misericórdia, lembrai-vos de mim, por causa de vossa bondade, Senhor. O Senhor é bom e reto, por isso reconduz os extraviados ao caminho reto. Dirige os humildes na justiça, e lhes ensina a sua via. Todos os caminhos do Senhor são graça e fidelidade, para aqueles que guardam sua aliança e seus preceitos. Por amor de vosso nome, Senhor, perdoai meu pecado, por maior que seja. Que advém ao homem que teme o Senhor? Deus lhe ensina o caminho que deve escolher. Viverá na felicidade, e sua posteridade possuirá a terra. O Senhor se torna íntimo dos que o temem, e lhes manifesta a sua aliança. Meus olhos estão sempre fixos no Senhor, porque ele livrará do laço os meus pés. Olhai-me e tende piedade de mim, porque estou só e na miséria. Aliviai as angústias do meu coração, e livrai-me das aflições. Vede minha miséria e meu sofrimento, e perdoai-me todas as faltas. Vede meus inimigos, são muitos, e com ódio sem fim me perseguem. Defendei minha alma e livrai-me; não seja confundido eu que em vós me acolhi. Protejam-me a inocência e a integridade, porque confio em ti! Ó Deus, livrai Israel de todas as suas dificuldades.”

É esse Deus quem nos liberta e nos dá perspectivas de vida que ninguém neste mundo é capaz de dar. Portanto, temos uma saída dos males que nos afligem e perseguem, ou pelo menos uma maneira nova de encarar a nossa realidade. Vamos compreender melhor esse salmo. Essa oração nos revela uma espiritualidade em que os pobres se apoiam e confiam totalmente em Deus, porque é Ele a justiça deles. É o Senhor que conduz os pobres pelos seus caminhos. Podemos observar nesse hino três personagens protagonistas: Deus, aquele que o invoca e o inimigo perseguidor. Quem é Deus? É o protagonista da Aliança, da Criação. É a garantia da vida. No entanto aqui o inimigo é descrito como alguém que ameaça, mas também aquele que está dentro do suplicante, que é o pecado. É esse pecado que gera sofrimento e separa o ser humano de Deus. O mantém a distância, longe. Nesse caso o autor dessa oração cita dos “pecados da juventude”. Porém, esses pecados, não podem impedir a misericórdia de Deus que “reconduz os extraviados ao caminho reto”.

Assim sendo, esse hino está entrelaçado entre o arrependimento e alegria do perdão. A centralização do salmo pode ser sintetizado em apelos, às vezes corajosos, feitos a Deus por um pecador, que não obstante a sua miséria e pobreza, sente-se intimamente em sintonia com o seu Deus. De fato, o suplicante pede duas vezes perdão, onde se revela a angústia da pessoa e, ao mesmo tempo, a compreensão do Deus invocado. Esse diálogo insistente e confiante expressa a certeza que Deus o socorrerá, lhe dará a força de não ser esmagado. É o caso de um fiel perante os fracassos econômicos que lhes foram impostos por manter uma vida íntegra, como os ‘seus pais lhes ensinaram’ ele me confiou. “Rejeitei de aceitar subornos e propinas pelos órgãos públicos e acabei ficando sem nada” ele acrescentou.

A partir daí, ele não consegue mais nada para se afirmar em negócios, porque não quis compartilhar transações ilícitas. “Parece, dizendo ele, que tivesse sido marcado como pessoa não grata”. Esse senhor continua acreditando que um dia tudo isso vai se reverter, vai conseguir fazer negócios para manter a própria família honestamente, porque Deus está acima de qualquer estratégia humana. Não pode, por exemplo, o suborno ser triunfante, porque prejudica a convivência dos filhos e filhas de Deus.