Pe. Claudio Pighin

Coronavirus na Itália


Ruas desertas, silêncio profundo. Os comércios estão vazios; as igrejas, sem celebrações. As escolas foram fechadas. É o Nordeste da Itália, onde estou nesse momento. As pessoas estão muito preocupadas: coronavirus é o espectro dominador. A epidemia começou na China no fim de 2019 e daí se espalhou em 28 países. A Itália é o terceiro país no mundo em número de contágios. Até esse momento (25.02.2020), já temos na Itália 322 casos confirmados, com onze vítimas. Aquilo que me surpreende é o alarmismo que está tomando conta das pessoas.

Só para se ter uma ideia, os contatos se esvaziaram, as prevenções de evitar o toque de mão estão tomando conta, as pessoas munidas de mascaras para colocar no rosto crescem sempre mais. Também foram canceladas as manifestações carnavalescas, como a famosa festa de Veneza. Jogos importantes do campeonato italiano de série A foram cancelados, entre eles em Milão e Verona. Até às 24 horas do primeiro de março, deve-se manter esse regime férreo de prevenção. E as pessoas que encontro ficam perplexas, apavoradas, e me confiam: “Será que vamos sair dessa? Até quando podemos aguentar tudo isso? O que vai acontecer conosco? Será que a minha tosse é sintoma de coronavirus?”

Tudo se abalou. Tanto o povo quanto todas as organizações sociopolíticas e religiosas. Eu fico olhando este deserto que improvisamente surgiu neste ambiente tão belo e superorganizado. É espontâneo pensar o quanto é fácil colocar em crise também uma sociedade bem estabilizada e antiga como a italiana. Parece-me que se está num estado de guerra. Talvez esse é ainda pior, porque o inimigo é invisível e se tem dificuldade em como combate-lo. Será que isso é o futuro das novas guerras? Uma coisa é certa: este vírus tão invisível se tornou um gigante entre nós e bota medo sem fim.

Também a economia está sofrendo as consequências desta difusão do coronavirus. Está desestabilizando tudo e, sobretudo, a emotividade das pessoas, a convivência civil do ser humano, porque a pessoa começa a suspeitar da pessoa que pode ficar por perto. Assim sendo, este vírus põe os homens e as mulheres um contra o outro. Creio que nunca como hoje e nestas situações a melhor resposta a tudo isso seja a fé e a cultura, que, certamente, não evitam as dificuldades, mas ensinam como enfrenta-las. Perante a tanta desesperação o convite é a ser humanos e como tal ficar. Não podemos nunca esquecer que o gigante não é o coronavirus, mas nós, seres humanos. É uma lição de vida para qualquer calamidade em nossa vida.