Pe. Claudio Pighin

Deus cria e conduz a história


Nossa história não é uma história qualquer. Nós que acreditamos em Deus reconhecemos que essa nossa história lhe pertence. Tendo essa confiança, podemos enxergar a nossa realidade de maneira diferente. Podemos acreditar além daquilo que raciocinamos. Os nossos horizontes são infinitos como é infinito o nosso Deus. Por tudo isso, tornamo-nos pessoas de esperança e de alegria. Esse salmo 32, das Sagradas Escrituras, permite-nos aprofundar a verdade da nossa vida e nos alegrar com ela. Leia atentamente a profundeza dessas palavras.

“Exultai no Senhor, ó justos, pois aos retos convém o louvor. Celebrai o Senhor com a cítara, entoai-lhe hinos na harpa de dez cordas. Cantai-lhe um cântico novo, acompanhado de instrumentos de música, porque a Palavra do Senhor é reta, em todas as suas obras resplandece a fidelidade: ele ama a justiça e o direito, da bondade do Senhor está cheia a terra. Pela Palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro de sua boca todo o seu exército. Ele junta as águas do mar como num odre, e em reservatórios encerra as ondas. Tema ao Senhor toda a terra; reverenciem-no todos os habitantes do globo. Porque ele disse e tudo foi feito, ele ordenou e tudo existiu. O Senhor desfaz os planos das nações pagãs, reduz a nada os projetos dos povos. Só os desígnios do Senhor permanecem eternamente e os pensamentos de seu coração por todas as gerações. Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que ele escolheu para sua herança. O Senhor olha dos céus, vê todos os filhos dos homens. Do alto de sua morada observa todos os habitantes da terra, ele que formou o coração de cada um e está atento a cada uma de suas ações. Não vence o rei pelo numeroso exército nem se livra o guerreiro pela grande força. O cavalo não é penhor de vitória nem salva pela sua resistência. Eis os olhos do Senhor pousados sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua bondade, a fim de livrar-lhes a alma da morte e nutri-los no tempo da fome. Nossa alma espera no Senhor, porque ele é nosso amparo e nosso escudo. Nele, pois, se alegra o nosso coração, em seu santo nome confiamos. Seja-nos manifestada, Senhor, a vossa misericórdia, como a esperamos de vós.”

Esse hino, como você percebeu, é dirigido ao nosso Deus, que é o Senhor da história e o Criador do universo. É Ele que guia a história e, sobretudo, nesse caso, de Israel. É um canto que exalta o projeto de Deus, o seu Reino. O autor o proclama como um cântico novo. O que significa isso? Porque a sua declamação está cheia de fé, cheia de esperança. As palavras que pronuncia se revestem de alegria e de maneira inédita. Tornou-se com esse fervor como fosse original, pronunciado pela primeira vez, no entanto, é antigo. Parecido com a gente, quantas vezes temos rezado uma oração rotineira, mas aquele dia rezou tão intensamente como se nunca tivesse rezado. Parecia de ter rezado pela primeira vez. Além do mais, ‘novo’ é também o canto quando percebe Deus como salvador na história dos seres humanos, pelo seu amor. Enfim ‘novo’ é o canto que se torna glorificação da salvação que vem pelo Reino de Deus.

Em resumo, os primeiros versículos são um convite ao louvor; e a parte central do salmo é dedicada à celebração da palavra criadora de Deus, a exaltação da palavra providente na história e a palavra que age tanto na história quanto no universo. O autor proclama a palavra de Deus como a razão de ser e de estar acima de todos os eventos da vida. E como antítese disso, o fiel antepõe os projetos dos poderosos do mundo que com as suas manobras sibilinas querem determinar a história da humanidade. Essas ilusões do poder humano se dissolvem ao longo da história. Porém, o desígnio divino vai confirmando a sua eficácia e justiça.

Esse projeto de Deus, que não pode ser confundido com o dos homens, é um projeto sem fim que subsiste desde sempre. É também um projeto histórico que põe ao centro a eleição de Israel. É um projeto dinâmico o de Deus, que abraça o cosmo todo, toda a humanidade. E o salmo continua dizendo que Deus, que reside no céu, do alto enxerga todos os planos dos homens, enxerga todas as suas loucuras e discerne todos os seus segredos. E termina o hino com uma antífona de louvor e agradecimento ao Senhor da vida. É Ele a verdadeira história da humanidade.

E o papa Francisco nos convida através da sua homilia de 14.04.2013 a “adorar o Senhor quer dizer que diante Dele nós estamos convencidos que Ele é o único Deus, o Deus da nossa vida, da nossa história… Isto tem uma consequência na nossa vida, isto supõe se despojar de muitos ídolos pequenos e grandes que nós temos e que nos impedem de adorar o Senhor.”