Pe. Claudio Pighin

Deus é o nosso libertador


“Por favor, padre, me ajude! Padre, estou numa pior!” Essas e outras invocações, eu recebo todos os dias nas minhas andanças pela cidade. As pessoas elevam o grito delas pelo desespero da vida. A vida muitas vezes é cruel e o ser humano se sente em total perigo. É ardente o desejo das pessoas por ajuda e apoio. No entanto, muitas vezes elas se sentem decepcionadas, abandonadas. Quantas vezes eu ouço alguns dizerem: “Há pessoas que têm um coração duro, insensível!” ou “o meu pedido foi em vão; parece estar em frente de tanta gente, mas é como se não existissem!”
Mas, o ser humano tem alguém para apelar que vai além do povo. Pelo menos é aquilo que aprendi e vivo como filho de Deus. Pela minha experiência de criatura de Deus não hesito a invoca-Lo. Dele tenho grande apoio e respostas de vida. É Ele o meu refúgio. O salmo 29 das Sagradas Escrituras nos ajuda a respeito disso. Leia atentamente:

“Eu vos exaltarei, Senhor, porque me livrastes, não permitistes que exultassem sobre mim meus inimigos. Senhor, meu Deus, clamei a vós e fui curado. Senhor, minha alma foi tirada por vós da habitação dos mortos; dentre os que descem para o túmulo, vós me salvastes. Ó vós, fiéis do Senhor, cantai sua glória, dai graças ao seu santo nome. Porque a sua indignação dura apenas um momento, enquanto sua benevolência é para toda a vida. Pela tarde, vem o pranto, mas, de manhã, volta a alegria. Eu, porém, disse seguro de mim: Não serei jamais abalado. Senhor, foi por favor que me destes honra e poder, mas quando escondestes vossa face fiquei aterrado. A vós, Senhor, eu clamo, e imploro a misericórdia de meu Deus. Que proveito vos resultará de retomar-me a vida, de minha descida ao túmulo? Porventura vos louvará o meu pó? Apregoará ele a vossa fidelidade? Ouvi-me, Senhor, e tende piedade de mim; Senhor, vinde em minha ajuda. Vós convertestes o meu pranto em prazer, tirastes minhas vestes de penitência e me cingistes de alegria. Assim, minha alma vos louvará sem calar jamais. Senhor, meu Deus, eu vos bendirei eternamente.”

Esse salmo tem numa sequencia alternada entre descer e subir do túmulo, entre indignação e benevolência, entre pranto e alegria, entre jamais abalado e ficar aterrado, entre a penitência e alegria e que tudo isso, na linguagem semítica, quer dizer a vida como um todo. A abrangência total do viver. E o suplicante desse salmo já experimentou o sabor terrível da morte – o Scheol, a tumba, o pó –, mas Deus o tirou da habitação dos mortos. Na história do ser humano sempre se assiste a ilusão da mesma que parte da: ‘Seguro de mim: não serei jamais abalado’. É a convicção das conquistas dos bens materiais que possam garantir seguranças de vida para sempre. Que pura ilusão! É uma ilusão falsa de vida, vinda do pecado original de conduzir a própria vida sem Deus e assim alimentar uma total desconfiança em Deus, fonte de segurança e de tranquilidade.

No entanto, o salmista acrescenta na sua oração, a sua reconciliação com Deus que lhe dá força e segurança parecida a uma rocha, forte como as mais sólidas montanhas. E o salmo termina elevando o louvor ao Deus que soube lhe dar paz e alegria ao seu coração. Por tudo isso o suplicante festeja. Assim sendo, não pode mais se revestir de luto ou de roupa de saco típicas que acompanhavam as cerimônias de expiação e de dor. Tudo aquilo que caracterizava tristeza e dor deixa lugar para os enfeites de festas, porque uma nova vida surgiu por mérito do Senhor.

E o nosso querido papa Francisco nos lembra do apóstolo Paulo para compreender o salmo na ótica cristã: “Suportar é ter paciência, é carregar nas costas, é levar o peso das adversidades. A vida dos cristãos também tem momentos assim, mas Jesus nos diz: ‘Tenham coragem nestes momentos. Eu venci, vocês também serão vencedores’. Esta primeira palavra nos ilumina para superarmos os momentos mais difíceis da vida, aqueles momentos que nos fazem sofrer’”. E continua Francisco: “Entregar-se ao Senhor nos momentos mais difíceis… Um cristão pode levar avante as tribulações e também as perseguições, entregando-se ao Senhor. Somente Ele, é capaz de nos dar a força, de nos dar a perseverança na fé, de nos dar a esperança.”

“Confiar algo ao Senhor, confiar este momento difícil ao Senhor, confiar eu mesmo ao Senhor, confiar ao Senhor os nossos fiéis, nós sacerdotes, bispos, confiar ao Senhor as nossas famílias, os nossos amigos e dizer ao Senhor: ‘Cuida deles, eles são teus”. Termina o papa: “Na vida, temos que percorrer caminhos tortuosos, é a lei da vida. Mas nestes momentos, ao entregar-se ao Senhor, Ele nos responde com a paz. Este Senhor que é Pai e nos ama tanto e não desaponta jamais.”