Pe. Claudio Pighin

Deus não pensa como o mundo


O mundanismo parece que toma conta da nossa realidade. Ele se insere no nosso modo de pensar e agir, como se fosse a regra certa de vida e de felicidade. No entanto, é capaz de gerar ódio e divisão. É capaz de corromper, e de corromper até na Igreja. É uma ilusão de vida baseada, exclusivamente, nos bens materiais, na diversão egoística. E quem se opõe a isso é odiado, não é bem visto. Essa maneira de ser criou até uma cultura. Uma cultura que não consegue ir além daquilo que se enxerga, do que aparece. Os valores consistem somente na superfície e, portanto, é esdrúxula, com tempestividades de mudanças, perdendo as certezas de vida do além. Assim sendo, promove-se um modo de ser descartável, isto é, ‘usa-se e se descarta’. Delineia-se uma cultura sem fidelidade, sem raízes, como diz papa Francisco. E muitos cristãos assumem esse modo de ser mundano, confundindo Deus com o mundo. Jesus, o nosso verdadeiro mestre, no entanto, nos diz que esse mundanismo sufoca a Palavra de Deus, a combate.

 

Precisamos resgatar a espiritualidade, qual aprofundamento da palavra de Deus, testemunho e experiência comunitária. É tentar, a partir desta experiência, uma busca de Deus. Neste sentido, a experiência da mãe de Jesus, Maria, ajuda-nos a encontrar caminhos. Todos nós lembramos quando Maria se achava em um profundo silêncio contemplativo e, de repente, foi alcançada pelas palavras do anjo Gabriel. A materialidade não a distraiu.

 

E, assim, Maria conseguiu dialogar com o anjo. Saem palavras simples, mas exaustivas. No começo, até que ela ficou perturbada e refletiu sobre aquilo que estava acontecendo. Aqui surge, espontaneamente, a pergunta: como podemos perceber a presença de Deus na nossa vida, se a gente não consegue fazer um momento de silêncio no nosso dia a dia? As coisas efêmeras mandam na vida. Imagino Maria totalmente absolvida nesta ação para tentar entender.

 

De fato, isto acontece também conosco quando não sabemos o que fazer? Qual a nossa reação perante tudo isso? Maria nos orienta neste sentido. Ela procurou escutar atentamente o enviado de Deus e, com isso, conseguiu dialogar. Nós conseguimos reconhecer o enviado de Deus na nossa vida cotidiana? Deus não falou só naquele tempo e a uma só pessoa, mas em toda a história da humanidade. E, assim sendo, também no nosso tempo. Estamos percebendo tudo isso? Para poder dialogar, temos que saber escutar.

 

Como vivemos a nossa dimensão de saber ouvir os outros? Maria consegue dar um sentido a sua vida, por meio do diálogo com o anjo que interveio na vida histórica dela. Portanto, Deus não pode ser encontrado fora da nossa realidade, da nossa vida e dos nossos acontecimentos. Toda a Bíblia nos confirma que Deus toma a iniciativa da sua presença na vida do ser humano. Maria demonstrou que tem consciência disso reconhecendo-O na sua história, dando aquela sublime resposta de confiança: “faça-se em mim segundo a tua palavra!”.