Pe. Claudio Pighin

Deus nos fala


Evangelho de Lucas 2, 1-14

 

O evangelista Lucas contextualiza o nascimento de Jesus num período histórico, bem determinado, que era o da “pax romana” do império Romano. É naqueles dias que se inicia o tempo da Salvação definitivo. Isto é, a ação de Deus se encarna na nossa história e é nela o lugar privilegiado. Significa que a sua revelação não é abstrata nem fora de nós.

Enganam-se aqueles que querem fazer uma experiência de Deus fora do contexto histórico. Maria e José encontram abrigo num estábulo encostado numa gruta, porque não havia lugar para eles na estalagem. E naquela região havia alguns pastores: os primeiros que receberam a feliz e boa notícia da ação redentora de Deus. Quem eram os pastores? Eles precisavam acompanhar o rebanho e, portanto, locomovendo-se continuamente.

Assim, não podiam prestar os devidos cultos nos tempos estabelecidos pela lei. Por isso, eram eles considerados infiéis, pessoas não dignas de fé nem apreço. Só para ter uma ideia, o testemunho deles geralmente não era aceito pelos tribunais hebraicos.

Portanto, o primeiro anúncio é dirigido a eles, pobres, os últimos da vida sócio religiosa daquele tempo. A partir dessas constatações, podemos reparar como Deus pensa e age na nossa história, surpreendendo-nos nas suas escolhas.

Para Ele, o que é mais importante é totalmente diferente daquilo que acontece na nossa sociedade. Quem não tem nada para o Senhor, em todos os sentidos, parece que tem um privilégio de maior atenção. Efetivamente, creio que a ação de Deus é sempre favorecer o ser humano que tem menos favores. Isto significa que ninguém é excluído por Deus, somente que a sua aposta é direcionada para quem está sem nada. Deus quer salvar a humanidade toda a partir de quem não tem favores nesse mundo. Uma lógica revolucionária para as nossas cabeças. Pois é, quando é que nós apostaríamos nos últimos para transformar essa nossa realidade tão complicada?

Outro aspecto sinalizado neste Evangelho é a presença dos anjos. Eles são os mediadores entre Deus e os seres humanos, preservando a transcendência de Deus. No Novo Testamento, eles têm o papel de estar a serviço da salvação da humanidade. Esses mensageiros anunciam uma grande alegria que não se limita somente aos pastores, mas a todo o povo. A maravilha do Santo Natal se revela exatamente nisso: sem os anjos os pastores não teriam entendido que aquele Menino deitado na manjedoura seria o Senhor. E também sem o Menino deitado na manjedoura não entenderíamos que a glória do verdadeiro Deus é bem diferente da glória humana.

A paz, segundo o hino dos anjos, se opõe a “paz romana” que era de poder e conquistas de civilização. No entanto, a paz de Deus é a realização na terra daquilo que acontece no “Céu”.

Portanto, para glorificar a Deus precisamos construir a paz.

Feliz e Santo Natal.

 

* Sacerdote e doutor em teologia;
E-mail: clpighin@claudio-pighin.net