Pe. Claudio Pighin

Educação, educação!!!


Tenho a impressão, pelo contato com diferentes pessoas, que existe um ‘vazio cultural’ na sociedade. O que entendo por ‘vazio cultural’? A incapacidade das pessoas em discernir a realidade verdadeira em que vivemos. Uma falta de capacidade de pensar e, consequentemente, de compreender aquilo que está ao redor. As falas e os comportamentos do ser humano hoje me levam a fazer essa dedução: ‘vazio cultural’! Creio firmemente que as pessoas estejam longe da realidade e conhecem situações e casos mediados por terceiros e, portanto, irreais.

Essa é uma realidade interpretada por alguém que tem como objetivo manipular a situação em seu favor. Hoje em dia se torna fácil a manipulação dos fatos pela tecnologia que temos. Praticamente, hoje o irreal é mais real que o real. Estamos mergulhados em uma realidade ilusória e, consequentemente, com muita dificuldade para termos os ‘pés no chão’. Assim sendo, como ter um relacionamento real com aqueles que convivemos e com os outros em geral? Um fato distorcido constrói relacionamentos distorcidos, e aí você pode imaginar o resultado de tudo isso.

Exatamente o problema sério dos nossos tempos: vivemos fora da realidade! Uma realidade manipulada, mentirosa. A mídia é uma ferramenta que se adapta a isso. Por essa razão, precisamos nos libertar dessa escravidão que nos mantêm nas trevas. Como nos libertar? Quando o cardeal Maria Martini ainda era bispo da arquidiocese de Milão, lembro-me, perfeitamente, quando tive que marcar, com certa antecedência, a entrevista e, em seguida, enviar as perguntas a realizar.

O encontro no seu escritório em Milão foi tão receptivo que me senti à vontade até para improvisar mais perguntas, o que ele aceitou de bom grado. Quando questionei sobre a dificuldade na nossa Igreja sobre a comunicação como um todo, ele não teve dúvidas em reconhecer essa lacuna e, não só, acrescentou que o único caminho para superar essa deficiência era o estudo. Ele insistiu por três vezes ‘ESTUDAR, ESTUDAR E ESTUDAR!’

Estudar os novos caminhos da comunicação e adentrar-se neles. Hoje em dia, esse fenômeno toma conta da nossa vida. Ele desejava que, sobretudo, os padres fossem mais preparados para isso. A recomendação do cardeal Martini se torna ainda mais persistente em não confundir a comunicação em si com os meios de comunicação.  Quando terminei a entrevista, ele me perguntou onde eu tinha estudado. Ao ouvir a resposta, ele me disse que ia mandar logo dois padres da sua arquidiocese para a mesma escola, eacrescentou a urgência dessa formação para a igreja de Milão.

Até hoje me comovem as suas palavras, porque comprovaram toda a minha dedicação de sacerdote para a questão da comunicação na evangelização. Uma evangelização sem comunicação se torna estéril. As pessoas são demais iludidas por uma realidade manipulada. Precisamos liberta-las, porque são preciosas aos olhos de Deus. A evangelização é também isso: saber discernir o que é de Deus ou que é do maligno. Uma comunicação que abrange toda a vida dos filhos e filhas de Deus exalta a mesma VIDA. Rende alegres as pessoas.

Infelizmente, parece que essa preocupação esteja longe de nós. Estamos em um ‘vazio cultural’! Como podemos ajudar as pessoas a serem livres se a gente não educa a discernir a realidade? A saber recepcionar as mensagens num mundo da mentira? Por exemplo, quando falo do alfabeto das imagens a total maioria das pessoas não compreende. Por quê? Porque nunca foram educadas para isso. E a Igreja tem o dever de suprir essa lacuna se não se torna incapaz de ter uma efetiva evangelização.

Vejo em meu próprio Instituto, o PIME, quanto ‘vazio cultural’ nesse sentido. E o pior parece que não tem jeito para reverter essa situação. E aí eu me pergunto: Como ser missionários sem dominar a comunicação? Como ser evangelizadores sem saber comunicar? Muitas confusões e divisões entre nós são devidas a essa não comunicação. A nossa Igreja, em particular, deve saber explorar melhor a comunicação como um grande processo. No entanto, parece que está parada somente nos meios em si. Eu fico cada vez mais triste vendo os nossos fiéis marcados por esse ‘vazio cultural’.

Lembro-me de que uns vinte anos atrás quando ministrei um curso de análise de uma telenovela em Macapá. Na conclusão dele uma jovem professora pronunciou essa frase: “Parece que caíram dos meus olhos as escamas que me impediam de enxergar. Agora compreendo aquilo que estou vendo, antes me deixava atrair pelas imagens e falas, mas não sabia ir além disso. Caíram as minhas escamas, estou enxergando!” Hoje é urgente liberar a vista das pessoas, porque a cegueira é perigosa e nos rende totalmente dependentes. E isto se faz com a educação à comunicação. Enfim quero parabenizar todas as mães e, sobretudo aquelas que enfrentam doenças e abandono.