Pe. Claudio Pighin

Escutai, ó pastor de Israel!


Cada pessoa tem histórias para contar. São muitas e diversificadas. Mas aquelas que mais marcam são os sofrimentos e o desespero do abandono. Um dia um senhor me encontrou e quis desabafar comigo. O seu casamento não tinha mais sentido, os filhos não se sentiam mais à vontade na família e a esposa tomava rumos que o levaram ao desespero. Então, ele se questionava sobre o porquê de tudo aquilo. Certamente, ele acrescentou, “eu tenho as minhas culpas”. Continuou ele: “Mas por que devemos sofrer assim? Por que não conseguimos nos entender? Por que não conseguimos viver numa boa harmonia?” Onde encontrar uma resposta exaustiva a tudo isso e mais? Leia esse salmo 79 das Sagradas Escrituras para tentar dar uma resposta:

“Escutai, ó pastor de Israel, vós que levais José como um rebanho. Vós que assentais acima dos querubins, mostrai vosso esplendor em presença de Efraim, Benjamim e Manassés. Despertai vosso poder, e vinde salvar-nos. Restaurai-nos, ó Senhor; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos. Ó Deus dos exércitos, até quando vos irritareis contra o vosso povo em oração? Vós o nutristes com o pão das lágrimas, e o fizestes sorver um copioso pranto. Vós nos tornastes uma presa disputada dos vizinhos: os inimigos zombam de nós. Restaurai-nos, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos. Uma vinha do Egito vós arrancastes; expulsastes povos para a replantar. O solo vós lhes preparastes; ela lançou raízes nele e se espalhou na terra. As montanhas se cobriram com sua sombra, seus ramos ensombraram os cedros de Deus. Até o mar ela estendeu sua ramagem, e até o rio os seus rebentos. Por que derrubastes os seus muros, de sorte que os passantes a vindimem, e a devaste o javali do mato, e sirva de pasto aos animais do campo? Voltai, ó Deus dos exércitos; olhai do alto céu, vede e vinde visitar a vinha. Protegei este cepo por vós plantado, este rebento que vossa mão cuidou. Aqueles que a queimaram e cortaram pereçam em vossa presença ameaçadora. Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o homem que haveis fortificado. E não mais de vós nos apartaremos; conservai-nos a vida e então vos louvaremos. Restaurai-nos, Senhor, ó Deus dos exércitos; mostrai-nos serena a vossa face e seremos salvos.”

Este salmo é mais uma lamentação de todo o povo de Israel. É neste salmo que se descreve, como símbolo de Israel, a vinha. E mostra como esta vinha foi perseguida por uma tempestade tão violenta que os deixou numa profunda tristeza. Assim o salmo inicia, descrevendo como Deus sempre tinha guiado o seu povo Israel pela arca. Depois, de repente, parece que cochilou e se tornou indiferente à vida do seu povo. Parece que se esqueceu dele. Israel deseja de todo coração ter de novo o controle de Deus, que guia o seu rebanho, o conduz pelas suas pastagens e o farta de seus bens e, assim, dar posse numa vinha privilegiada.

O centro desse hino é caracterizado pelo simbolismo da vinha. Isto significa que, por meio da vinha, quer lembrar as suas próprias raízes, como nasceu sobretudo a partir da grande experiência do êxodo do Egito rumo à terra prometida e a sua própria chegada. A vinha alcançou um crescimento exuberante com Salomão, tanto de descrever que toda Palestina tivesse invadida pela folhagem verde da videira de Israel. Porém, agora esse encanto se quebrou. Parece que Deus, parecido a um invasor, derrubou o muro que defendia essa vinha, deixando assim a ser pisoteada e perder toda aquela floração que tinha no passado.

Perante essa realidade arrasadora surge um forte apelo para Deus: “Voltai, ó Deus dos exércitos”. Assim sendo, Deus não pode ser contra o seu povo Israel, mas ansiosamente espera a sua volta para que a sua vinha volte àquela de antigamente: ser fecunda. É claramente um hino marcado pelo sofrimento, mas, ao mesmo tempo, de uma grande confiança no seu Deus. As tempestades da vida são contrapostas pela confiança em Deus. Enfim, o papa Francisco nos enriquece a respeito através de um trecho da sua homilia feita no dia 19.01.2014:

“Muitas vezes temos confiança num médico: e isto é bom, porque o médico existe para nos curar; temos confiança numa pessoa: os irmãos e as irmãs podem ajudar-nos. É bom nutrir entre nós esta confiança humana. Contudo, nós esquecemos a confiança no Senhor: esta é a chave do sucesso da vida. A confiança no Senhor! Confiemos no Senhor! «Senhor, vê a minha vida: estou na escuridão, tenho que enfrentar esta dificuldade, cometi este pecado…»; tudo o que nós temos: «Olha para isto: eu confio em ti!». E esta é uma aposta que nós devemos fazer: confiar Nele, que nunca desilude. Nunca, jamais! Ouvi bem, vós rapazes e moças, que começais a vida agora: Jesus nunca desilude. Nunca!”