Pe. Claudio Pighin

Estamos cansados de Deus?


É extraordinário fazer a experiência de Deus em minha vida. Essa maravilha, no entanto, desperta em mim alguns pontos de preocupação, que parte do meu mais profundo íntimo: será que nossa geração acredita em Deus? Será que em nossas igrejas se acredita em Deus? As nossas lideranças acreditam em Deus? Por que minha apreensão? Essa mudança radical de culturas e convivência sociopolítica nos fragilizou demais e, ao mesmo tempo, nos distanciou fortemente.

Só para se ter uma ideia, hoje cada um tem uma concepção de Deus, de Igreja e de autoridades eclesiais. Hoje em dia, há até católicos que rejeitam o papa, por considera-lo falso. Uma mudança radical de viver a mesma Igreja. Por isso se multiplicam igrejas e cada uma achando de ser a verdadeira. Cada fiel se tornou uma ilha. No entanto, a Igreja, pelo seu percurso histórico bíblico e do magistério, nos ensina insistentemente que Ela é missionária.

Não se pode seguir o Senhor Jesus Cristo sem ser por Ele enviado. Portanto, devemos discernir como atualizar o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Aquilo que reconheço, no entanto, é a falta da verdadeira missionariedade das comunidades e igrejas locais. Na verdade, fala-se muito de missão e missionariedade, mas estão longe em praticar tudo isso.

Denota-se uma falta de coragem de deixar tantas certezas de bem-estar para viver no meio da pobreza, da fome e da violência. Podem ver como, por exemplo, os institutos exclusivamente missionários, que tanto deram testemunho heroico de evangelização ao longo da história, envelheceram e se esvaziaram. Perderam aquela força e vigor, tornando-se precários. Neste sentido, o papa Francisco está sacudindo a própria Igreja para que se torne uma “Igreja em saída”, caracterizando assim a sua missionariedade bem dinâmica e viva.
Para fazer isso, evitando slogans, nasce a vontade de uma mudança radical de viver a Igreja. E a partir dessa mudança que se pode viver verdadeiramente a Missão que lhe é própria. Assim sendo, todo batizado e toda comunidade cristã se sentem responsáveis da evangelização. Naturalmente, isso requer ‘conversão’. Conversão para poder caminharmos juntos: pastores e rebanho. Isto é urgente para que todo mundo possa conhecer Jesus Cristo.
Às vezes, penso, quando digo isso, que a maioria considera que essa evangelização é feita para aqueles que não acreditam ou não tiveram a possibilidade de conhecer a grande verdade da Boa Notícia, mas reconheço que sobretudo aqueles que integram as comunidades necessitem dessa evangelização. Já o papa São João Paulo II exigiu uma Nova Evangelização, porque reconheceu o quanto estamos longe do verdadeiro encontro com o Nosso Senhor Jesus.
Creio que hoje estamos todos em terra de missão. Vivemos numa época bem secularizada e urge a missão. A nossa história é marcada por uma indiferença à religião, à busca de Deus, ao pertencer à Igreja. Está acontecendo uma revolução silenciosa que muda profundamente a identidade das nossas comunidades. Enfim, temos sonhado uma Igreja evangelizadora e, no entanto, nos encontramos perante a uma Igreja não evangelizada.