Pe. Claudio Pighin

Eu vi a presença do Espírito Santo


Alguns anos atrás, aconteceu um caso de violência gravíssima em Belém, como continuam a acontecer ainda hoje, que me chamou muito a atenção: um jovem assaltou e matou outro jovem. Fiquei triste com a crueldade do crime, e me parecia que aquele dia tão esplendoroso se obscureceu totalmente. A vida imergida nas trevas. Naturalmente, houve a ação da polícia, que conseguiu desvendar o responsável de tanta maldade. O acusado foi preso e processado. Estou relatando de maneira bem sumaria o fato e nem consigo descrever a dor dos pais que perderam o filho tragicamente. Depois de todos os procedimentos legais que competem no caso, chegou o dia do julgamento.

À sala da justiça chegaram também as mães da vítima e do réu. A um certo ponto, as duas se olharam e depois de uma breve hesitação se levantaram e, aproximando-se, desceram lágrimas dos rostos delas. Elas se abraçaram e viveram momentos de grande misericórdia. Uma perdoando e a outra pedindo perdão. Poucas palavras, mas intensos momentos de amor. Tiveram a capacidade de se olhar nos olhos e sentir toda a dramaticidade do evento cruel: uma mãe que perdeu o filho e a outra que teve o filho encarcerado, praticamente perdido também. Duas mães de realidades totalmente diferentes marcadas de grande dor.

No entanto, o perdão e a misericórdia souberam ir além da imensa dor. Aquela cena de duas mães abraçadas foi uma cena inesquecível para mim. Toda vez que lembro, causa-me sempre algo que dá esperança e força de viver. Transforma o dia de trevas em dia de luz resplandecente. Eu me perguntei: o que foi que levou aquela mãe que teve o filho morto a ter tanta força de perdoar, e a outra mãe lhe pedir perdão pelo filho homicida? A razão humana não chega a tanto assim, eventualmente pode confiar a uma justiça retributiva qual a justiça humana com os seus tribunais. Esse abraço de misericórdia, sinceramente, pode ser somente justiça divina.

Por isso, acredito firmemente que o Espírito Santo conduziu aquelas mães e elas se deixaram conduzir por Ele. Eu vi naquele momento a presença do Espírito Santo, como Ele regenera a vida de dor em esperança eterna. É verdade, aquelas mães depois daquele momento misericordioso pareciam outras pessoas, não obstante tanto sofrimento. Algo aconteceu no coração delas que tiveram a capacidade de erguer a cabeça e de não ter medo de enfrentar a própria realidade. Chegaram até a não se interessar mais do processo em curso, talvez porque superaram o processo de Deus, do amor. E eu me pergunto: se fizéssemos da nossa vida uma vida de misericórdia, de amor, como aquelas duas mães, talvez não teríamos uma vida mais fraterna e solidária?

A nossa sociedade não pode ser satisfeita somente com as coisas materiais e racionais. A alegria vem dessa prática do amor, da proximidade com o outro, da promoção do outro. Não por acaso Jesus nos recomendou tanto de amarmos uns aos outros como Ele nos amou. O segredo da alegria está em colocar em prática o que Jesus nos recomendou. Aquelas duas mães souberam fazer, porque se deixaram conduzir pelo Espírito Santo. O grande desafio de amar, perdoar é sustentado pela ação do Espírito Santo. De fato, Ele é Deus presente em nós, um Deus que nos ajuda a relembrar o que Jesus nos ensinou e testemunhou, que desperta a nossa memória.

E para reconhecer essa verdade é só reler o que Jesus falou aos apóstolos antes da Pentecostes: “O Espírito que Deus vos conferirá em meu nome, vos lembrará tudo aquilo que vos falei”. Portanto, amar como Jesus nos amou é possível, mas precisamos reconhecer o protagonismo do Espírito Santo na nossa vida. Sem Ele, tudo é mais complicado. Eu creio que dificilmente aquelas duas mães teriam agido daquele jeito sem ajuda do Espírito Santo. Sendo assim, temos que apelar à ajuda do Espírito Santo para poder incentivar uma sociedade de misericórdia e de amor. Uma sociedade fraterna e justa como Deus quer. É o Espírito Santo que nos ajuda a libertar de tantas e tantas escravidões que nós acumulamos no nosso dia-dia.

É urgente a nossa libertação para vivermos a alegria, não obstante as nossas pobrezas e fraquezas. É o que nos falta hoje: a verdadeira alegria. Fiquei alegre ao ver as duas mães se perdoando, assim senti a presença do Espírito Santo, isto é, Deus. Portanto, vinde Espírito Santo e inflamai os nossos corações do teu amor!