Pe. Claudio Pighin

Louvai o Senhor, porque ele é bom!


O salmo 106 das Sagradas Escrituras é dividido por uma solene abertura litúrgica; logo em seguida, encontramos um maravilhoso canto de agradecimento articulado, por sua vez, em quatro obrigados, ex-voto e, por fim, um final de agradecimento a Deus por tudo aquilo que fez para realizar a história de salvação.

“Aleluia. Louvai o Senhor, porque ele é bom. Porque eterna é a sua misericórdia. Assim o dizem aqueles que o Senhor resgatou, aqueles que ele livrou das mãos do opressor, assim como os que congregou de todos os países, do oriente e do ocidente, do Norte e do Sul. Erravam na solidão do deserto, sem encontrar caminho de cidade habitável. Consumidos de fome e de sede, sentiam desfalecer-lhes a vida. Em sua angústia, clamaram então para o Senhor, ele os livrou de suas tribulações e os conduziu pelo bom caminho, para chegarem a uma cidade habitável. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens, porque dessedentou a garganta sequiosa, e cumulou de bens a que tinha fome.

Outros estavam nas trevas e na sombra da morte, prisioneiros na miséria e em ferros, por se haverem revoltado contra as ordens de Deus e terem desprezado os desígnios do Altíssimo. Pelo sofrimento lhes humilhara o coração, sucumbiam sem que ninguém os socorresse. Em sua angústia, clamaram então para o Senhor, e ele os livrou de suas tribulações. Tirou-os das trevas e da sombra da morte, quebrou-lhes os grilhões. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Ele arrombou as portas de bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro. Outros, enfermos por causa de seu mau proceder, eram feridos por causa de seus pecados. Todo alimento lhes causava náuseas, chegaram às portas da morte. Em sua angústia clamaram então para o Senhor; ele os livrou de suas tribulações. Enviou a sua palavra para os curar, para os arrancar da morte. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Ofereçam sacrifícios de ação de graças, e proclamem alegremente as suas obras. Os que se fizeram ao mar, para trafegar nas muitas águas, foram testemunhas das obras do Senhor e de suas maravilhas no alto-mar. Sua palavra levantou tremendo vento, que impeliu para o alto as suas ondas. Subiam até os céus, desciam aos abismos, suas almas definhavam em angústias. Titubeavam e cambaleavam como ébrios, e toda a sua perícia se esvaiu.

Em sua agonia clamaram então ao Senhor, e ele os livrou da tribulação. Transformou a procela em leve brisa, e as ondas do mar silenciaram. E se alegraram porque elas amainaram, e os conduziu ao desejado porto. Agradeçam eles ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Celebrem-no na assembleia do povo, e o louvem no conselho dos anciãos. Transformou rios em deserto, e fontes de água em terra árida. Converteu o solo fértil em salinas, por causa da malícia de seus habitantes. Mudou o deserto em lençol de água, e a terra árida em abundantes fontes. (…) À vista disso os justos se alegram, e toda a maldade deve fechar a boca. Quem é sábio para julgar estas coisas e compreender as misericórdias do Senhor?”

Quais são, portanto, os ex votos descritos no salmo? O primeiro ex-voto é de um viajante que, com uma caravana, se tinha aventurado nas arriscadas pistas do deserto (vv. 4-9). Ele com fome, com sede e exausto tinha sido orientado por Deus no caminho certo, em direção de uma cidade. O segundo ex-voto é proclamado por um preso. Das trevas e da sombra da morte, quebrou-lhes os grilhões a bondade do Senhor, e por suas grandes obras em favor dos homens Ele arrombou as portas de bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro. O terceiro ex-voto é de um enfermo. A doença física, na perspectiva do Antigo Testamento da retribuição, é uma consequência do pecado. Clamando então para o Senhor, Ele o livrou de suas tribulações, arrancando-o da morte.

O quarto e último ex-voto é aquele de um marinheiro. Perante a tempestade do mar, eles titubeavam e cambaleavam como ébrios. Em sua agonia, clamaram então ao Senhor, e ele os livrou da tribulação. Transformou a procela em leve brisa, e as ondas do mar silenciaram. É um salmo de agradecimento de todo Israel, peregrino no deserto, prisioneiro, doente pelos seus pecados e perturbado pelas tempestades da história, porque é libertado pelo seu Deus. A conclusão é focada sobre quem é o verdadeiro sábio. Ele é aquele que sabe perscrutar os meandros da história para poder compreender a presença fiel de Deus. Tudo o que acontece na vida do ser humano é visto a partir de como Deus faz prevalecer o seu amor.