Pe. Claudio Pighin

Não façamos da nossa oração algo mágico


“A oração não é uma varinha de condão, mas um diálogo com Deus”, disse o papa Francisco, na audiência geral do dia 26 de maio de 2021, no Vaticano. Em sua catequese, o Santo Padre reafirmou que Deus nos ouve com certeza, se nós pedirmos algo pra Ele. O Pai Celestial não faz ouvidos de mercante, como se diz popularmente, mas se inteira conosco. É bom ouvirmos essas palavras que nos dão coragem para termos sempre mais confiança no nosso Deus. Assim sendo, a oração não é o resumo de tantas palavras, de tantos discursos, mas de fazermos essa experiência de um Deus conosco.

Porém, atenção, alerta sempre o papa Francisco: “É fácil escrever sobre um estandarte ‘Deus está conosco’; muitos se apressam em garantir que Deus está com eles, mas poucos se preocupam de verificar se eles estão efetivamente com Deus.” Esta é a grande verdade: tentar fazer de Deus o nosso monopólio nos afasta Dele. O nosso Deus é soberano, é Ele que toma a iniciativa porque nos ama infinitamente. Alguns podem pensar que quanto mais se fala mais se reza e, ao contrário, aquele que não consegue dizer grandes coisas reza pouco. Na verdade, às vezes, a pessoa que não exprime palavras rebuscadas e fala pouco, pode rezar muito e mais que o falador. Por quê?

Vejam o que disse Jesus em Lc 18, 9-14: “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’. O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”.

Com essas palavras, fica mais evidente que a oração é um ato de humildade que quer tentar acolher Deus na sua vida e não fazer de Deus um instrumento. Quantas orações que se demonstram mágicas, isto é, quando impomos uma relação com Deus em que queremos nos colocar no lugar dele. A verdadeira oração é uma experiência de profunda fé e, por isso, o Santo Padre disse: “A oração não é uma varinha de condão, mas um diálogo com Deus.” Não pode passar na nossa cabeça que o Senhor Deus deva realizar aquilo que desejamos, que projetamos, porque Deus que vê tudo e sabe tudo conhece realmente o que nós precisamos. ‘O tempo de Deus não é o nosso tempo’.

Por isso, uma verdadeira experiência de fé, de verdadeira oração, é fazer a vontade de Deus-Pai. Assim sendo, precisamos de muita oração e muita intimidade com Deus. Acrescentou o papa Francisco: “Aprendamos esta paciência humilde de esperar a graça do Senhor, esperar o último dia. Muitas vezes, o penúltimo é terrível, porque os sofrimentos humanos são terríveis. Mas o Senhor está ali. E no último dia Ele resolve tudo.”