Pe. Claudio Pighin

Não se pode comercializar Deus


Estamos assistindo, ao longo desses últimos anos,a religião sendo apresentada igual a um produto de consumo. O processo de marketingparece que se tornou um meio muito atrativotambém para as igrejas do nosso tempo. A fé não pode ser comparada a uma roupa, a um sabonete. Ela não pode ser comercializada, como não pode absolutamente ser comercializado Deus, porque Ele está acima de tudo e de todos. Veja como as empresas, estrategicamente, fazem de tudo para vender a própria logomarca como garantia de sucesso na comercialização dos seus produtos. As igrejas também se preocupam, sobretudo, em reforçar as próprias instituições para ter garantias de venda de seus “produtos”. Portanto, adquiriu-se, em certo sentido, um processo de falta de fé, reduzindo Deus em segundo lugar: a instituição se tornou mais importante. Praticamente, ainstituição substitui, pelo privilégio, Deus. Nesse sentido, temos que reconhecer, desse jeito, que a mediação supera mensagem.

 

Com isso, não podemos, de jeito nenhum, reduzir as igrejas a empresas, que se preocupam em fazer “conquistas” para “ter” cada vez mais. Assim sendo, amplia-se sempre mais um processo de materialismo no lugar da fé. Esse grande perigo pode levar o indivíduo a fazer uma experiência reduzida do ser humano, limitando-o a uma simples dimensão corporal.

 

É verdade, embora não se fale expressamente de marketing comercial, porém, os métodos são muitos parecidos. A religião, para manter as suas lideranças, multiplica as maneiras de como mais consumir. Assim, propõe produtos de atração para o povo, que quase se sente obrigado a valorizá-los, confundindo-os com o dom da fé. É verdade, também, que as pessoas começam a demonstrar certa insatisfação em relação às instituições e procuram dar mais ênfase a uma experiência direta com Deus. O pragmatismo individual não isenta nem mesmo a religião. A cultura que favorece o individualismo, típica da nossa sociedade urbanística, certamente promoverá uma experiência religiosa pessoal mais que comunitária.

 

Com isso, vai se complicando o mandamento de Deus de “Amar a Deus e ao próximo”. O cenário da sociedade não favorece essa prática de fé. Torna-se difícil entender Jesus e viver o seu testemunho, porque não vai ao encontro das nossas concepções da vida. Com isso, é muito fácil criar idolatrias, que tentam substituir a verdadeira presença de Deus. Por sinal, isto é o pecado, segundo as Sagradas Escrituras, que enfurece o nosso Deus. Um processo de marketing não seria, por acaso, uma pretensão de querer manipular a Deus? Marketing é também ter certezas. No entanto, quem faz a experiência de Deus na sua vida não tem outra certeza se não depender totalmente Dele.

 

A fé, de fato, é se deixar conduzir cegamente por Deus. Dessa forma, quero dizer que o marketing religioso é mais um serviço por interesses não estritamente espirituais. Às vezes, eu penso como as religiões podem fortalecer a dimensão materialista de marketing no lugar da espiritual.