Pe. Claudio Pighin

O drama da pessoa


O pior drama para o ser humano, eu creio, é quando a pessoa se sente só; não consegue dar sentido a sua vida; é ausência total do seu eu. Para dizer a verdade, eu me sinto à vontade quando consigo fazer o silêncio ao meu redor para ajudar o silêncio dentro de mim. É esse encontro que me ajuda a dar sentido a minha vida. Sinto-me seguro e sereno. Como diz a Sagrada Escritura nos livros dos Salmos: “Como a criança bem tranquila, amamentada no regaço acolhedor de sua mãe (Sl 130)”. E esse silêncio me favorece em perceber o quanto é precioso o convívio, por exemplo, com a mãe natureza. Ouvir a linguagem dos animais, do vento, das árvores, das águas… Essa percepção me permite entender melhor o ser humano e seu cotidiano. Sentir o drama e a alegria das pessoas. Portanto, refugiar-me no meu silêncio não significa fugir da realidade do mundo, mas, pelo contrário, ir ao encontro dele com toda a pureza de espírito.

A partir disso, eu me pergunto: por que a cidade é tão barulhenta? Por que nossos lares são invadidos por tantos aparelhos tecnológicos audiovisuais? Por que todos esses celulares, esses desejos de falar sempre com alguém, sem deixar tempo para falar consigo? Parece que o ser humano tem medo de estar só. Quer evitar a tudo custo a experiência de se achar consigo mesmo.

O barulho, sons e exterioridade são uma maneira de preencher esse vazio. Para eles, o silêncio dá ansiedade, marginalização. Assim, não se consegue mais ouvir as outras linguagens sutis da natureza e das lamentações silenciosas dos irmãos em perigo ou sofrimento. A nossa surdez causada pelo excesso de sons e barulhos nos prejudica na nossa fala, na nossa comunicação. É verdade que não só falamos muito, mas também gritamos. Porém, não comunicamos. Isto é, não conseguimos nos fazer entender. Estamos numa situação babélica. A verdade, mais que falar é gaguejar. Daí, pode-se compreender como podemos nos comunicar.

O ser humano, assim, vai se enfraquecendo e se tornando cada vez mais frágil na comunicação. Para dizer a verdade, eu aprendo muito mais a falar ficando tempos prolongados, todos os dias, perante a cruz. É o silêncio da cruz que desperta em mim os conteúdos da vida, perspectivas cósmicas, preenchendo o meu ‘coração’. Tudo isso gera palavras mediadoras daquilo que existe em mim. Elas se tornam veículo de transmissão daquilo que a minha vida tem. Portanto, silêncio e palavras não podem ser separados, mas cada um precisa do outro. São coexistentes. Porém, quando o silêncio se torna uma tumba, rompe a harmonia do ser e da sua existência. De fato, posso ouvir, mas não entender, posso perceber os sons das palavras, mas não decifrá-las ou decodificá-las. Assim, cala-se a minha vida nos meandros da história. O mundo parece tornar-se um deserto, uma total aridez.. ■