Pe. Claudio Pighin

O senhor reina, tremem os povos!


Da Antropologia Teológica, reafirmamos nossa fé no ser humano, como fruto do “sopro de Deus” que lhe dá vida. Aprendemos que para descobrir Deus temos de passar pelo ser humano. Muitas vezes, presos na lógica do mundo, pensamos apenas no homem decaído, que não presta, que não tem jeito. Mas, esse humano não se esgota em sua trajetória histórica e sua escolha pelo pecado. Nós não vemos Deus. Então, o que estamos vendo? A obra dele! Esse conhecimento é “uma porta aberta ao infinito”. E no fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo.

O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social. E o salmo 98 das Sagradas Escrituras nos convida a reconhecer a grandeza de Deus através do ser humano.

“O Senhor reina, tremem os povos; seu trono está sobre os querubins: vacila a terra. Grande é o Senhor em Sião, elevado acima de todos os povos. Seja celebrado vosso grande e temível nome, porque ele é Santo. Reina o Rei poderoso que ama a justiça; sois vós que estabeleceis o que é reto, sois vos que exerceis em Jacó o direito e a justiça. Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é Santo. Entre seus sacerdotes estavam Moisés e Aarão, e Samuel um dos que invocaram o seu nome: clamavam ao Senhor, que os atendia. Falava-lhes na coluna de nuvem, eles guardavam os seus preceitos e a lei que lhes havia dado. Senhor, nosso Deus, vós os ouvistes, fostes para eles um Deus propício, ainda quando puníeis as suas injustiças. Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e prostrai-vos ante sua montanha santa, porque santo é o Senhor, nosso Deus.”

Este salmo celebra a santidade transcendente de Deus e, ao mesmo tempo, os compromissos dos seres humanos com Ele. É nessa reciprocidade que se vive o Deus que aposta tudo na vida. O hino aqui nos descreve a contemplação da potência de Deus com esses nomes: rei, grande, temível, excelso, santo, poderoso e justo. Para reforçar isso, focaliza uma reflexão moral sobre a Aliança como ajuda a viver mais intensamente a obra do Senhor. E por assinalar melhor isso são citados os grandes mediadores da aliança, quais: Moisés, Arão e Samuel. Moisés qual legislador, Arão o sacerdote e Samuel o profeta. Personagens destacadas na observância da Aliança.

De fato, foram fiéis em guardar os decretos e as leis de Deus, o qual os ouvia e perdoava nas suas falhas, exaltando-os na sua santidade. O ‘escabelo de seus pés’ de Deus, que quer dizer o trono Dele, Israel o tinha identificado na arca de puro ouro. E o Deus invisível se torna presente ao seu povo descendo nessa arca. E daqui Ele governa, julga e se pronuncia; pune e perdoa, manifestando assim a sua vontade. Desse trono da arca, espaço sagrado do templo, Deus todo poderoso se manifesta ao ser humano, deixando-o firme ou espantado, fiel ou perplexo.

E assim se perpetua a confiança em Deus, contrastando as propostas dos poderosos dessa terra que no fim são sempre ilusórias. A ação de Deus tão complexa e decidida será sempre a favor dos seus filhos e filhas. Um Deus, o nosso, que não é indiferente à nossa realidade, mas se compromete dia a dia conosco. Um Deus que garante a sua justiça, amando-nos até o fim. Assim sendo, qual é o deus tão próximo como o nosso Deus? E o papa Francisco, na homilia de 06.05.2018, falou o seguinte:

“Não fomos nós a amar Deus, mas Ele amou-nos em primeiro lugar. “Oh…eu amo a Deus. Faço cinco novenas por mês. Faço isso e aquilo…”. Sim, mas… como é a tua língua? Como vai a tua língua? É exatamente esta a pedra de comparação para ver o amor. Amo os outros? Pergunta-te: como vai a minha língua? Dir-te-á se é amor verdadeiro. Deus amou-nos em primeiro lugar. Espera-nos sempre com o amor. Mas o termómetro para saber a temperatura do meu amor é a língua. Se falou mal dos outros, não amei.”