Pe. Claudio Pighin

O senhor reina!


Deus chama cada ser humano. E cada ser humano é marcado desde a sua criação. Por isso, a história do ser humano é uma história de “dom da graça”. Ela é, também, uma história de pecado.
É bonita a narrativa de nossa criação, ressaltando o que recebemos do Pai. Somos fruto da graça de Deus. O que a narrativa nos ensina? O que ela nos demanda?
Três dons foram dados ao ser humano:
1) Dons naturais: razão e livre arbítrio
2) Dons preternaturais: dons que complementam a natureza do ser humano: imortalidade, integridade, moral, liberdade da concupiscência, impassibilidade (isenção de todo mal-estar) e ciência infusa.
3) Dons sobrenaturais: a amizade com Deus, a graça, a visão beatífica, as virtudes teologais, os dons do Espírito Santo.

A ciência infusa é um conhecimento que habita em nós, que recebemos como dom. Depois que o pecado original quebrou a aliança, perdemos a ciência infusa. Na condição original, não precisaríamos aprender, pois já traríamos dentro de nós o conhecimento para a vida. Mas, perdemos isso com o pecado. E quando nos afastamos de Deus perdemos esse conhecimento interior, esses dons de Deus, que nos capacitam a conhecer o mundo e quem somos realmente.
Com o Novo Adão, Jesus Cristo, podemos viver novamente também essa ciência infusa, pois a fé nos ilumina para conhecer, de uma maneira diversa do conhecimento do mundo. É fruto da ação do Espírito Santo em nós. Podemos, assim, entender a lógica de Deus, entender os ensinamentos de Jesus e, portanto, ir além do que o mundo nos dá a conhecer. A ciência infusa, como um dom de Deus, nos possibilita compreender o que para o mundo é loucura, como a morte de Jesus. Assim sendo, podemos entender que o nosso Deus não nos abandona; e o salmo 92 das Sagradas Escrituras nos ajuda a compreender isso:
“O Senhor é rei e se revestiu de majestade, ele se cingiu com um cinto de poder. A terra, que com firmeza ele estabeleceu, não será abalada. Desde toda a eternidade vosso trono é firme e vós, vós desde sempre existis. Elevam os rios, Senhor, elevam os rios a sua voz, e fazem eclodir o fragor de suas ondas. Porém, mais poderoso que a voz das grandes águas, mais poderoso que os vagalhões do mar, mais poderoso é o Senhor nas alturas do céu. Vossas promessas são sempre dignas de fé, e a vossa casa, Senhor, é santa na duração dos séculos.”
Esse salmo pertence aos tipos de hinos dedicados a Deus rei. Hino usado geralmente nas procissões do Templo. Essas celebrações se caracterizam pela realeza de Deus, da sua presença majestosa sobre universo e a sua história. O autor manifesta aqui, nos primeiros dois versículos, toda a sua alegria ao Senhor porque sente a sua proteção e o seu sopro de vida. É o Senhor que domina tudo e com Ele nada pode ser abalado. O fiel, entusiasta do seu Deus, o exalta qual rei do cosmo e, portanto, que está acima de tudo.
É Nele que está a nossa segurança, porque Ele firme do seu trono espalha a sua luz resplandecente e infinita sinal da sua onipotência do seu amor. Segundo a cosmologia bíblica, o mundo é como uma montanha que se levanta sobre o oceano antigo, qual símbolo de todas as potências malignas que se inseriram na criação. Nos versículos 3 e 4, o salmista diz que não adianta que as aguas façam eclodir o fragor das suas ondas porque Deus não se deixa intimidar, Ele é soberano sobre tudo que existe.

Esse Deus onipotente que tudo domina está perto de Israel, essa sua proximidade encontra-se na arca do Templo de Jerusalém, na palavra infalível da Torá, a Palavra de Deus da Bíblia. Enfim, esse hino exalta o Senhor, o Criador, que gera confiança e esperança nos fiéis que se sentem ameaçados pelas tribulações da vida, pelas forças do mal. E o papa Francisco na homilia matutina feita na capela da casa Santa Marta, no Vaticano, nos diz o seguinte a respeito: “Peçamos hoje ao Senhor que nos dê a maravilha diante dele, perante as muitas riquezas espirituais que nos concedeu; e juntamente com esta maravilha nos dê a alegria, a alegria da nossa vida e de viver com o coração em paz as numerosas dificuldades; e nos proteja da tentação de procurar a felicidade em muitas coisas que afinal acabam por nos entristecer: prometem tanto, mas nada nos darão!… E conclui: “lembrai-vos bem: um cristão é um homem e uma mulher de alegria, de alegria no Senhor; um homem e uma mulher maravilhados”. Por tudo isso repetimos com o salmo: “Vossas promessas são sempre dignas de fé”. E é essa nossa fé que nos sustenta todos os dias.