Pe. Claudio Pighin

Padre Bruno Secchi:apaixonado por deus e pelas pessoas


O ano era 1986 quando dirigia a Pastoral Carcerária e dos Direitos Humanos da diocese de Macapá. Lembro-me de que estávamos saindo do regime militar e, assim, com a minha equipe decidimos realizar um simpósio sobre a violência, como contribuição para unir todas as forças políticas e religiosas do então território federal do Amapá em oposição à violência que estava avançando sempre mais.

Naquela ocasião, a figura de destaque do simpósio foi dom Helder Câmara, mas também participou como palestrante o padre Bruno Secchi. Quando o encontrei pela primeira vez, vi nele uma pessoa simples, bem magrinho e sorridente. Senti nele uma firmeza em narrar a sua obra República do Pequeno Vendedor em defesa das crianças e adolescentes de rua.

A partir daí, nunca mais o esqueci, embora nos primeiros tempos não tivemos mais contatos. Sempre seguia padre Bruno pela imprensa. Passaram alguns anos e o destino quis a nossa aproximação, porque fui transferido para a arquidiocese de Belém com a finalidade de dirigir a Pastoral de Comunicação.

Comungávamos ideais e vida fundadas na Palavra de Deus. Secchi mais experiente que eu me dava aulas de como viver melhor e mais concretamente a vida seguindo Jesus Cristo. Um desses testemunhos que sempre me deixavam profundamente firme era a sua humanidade. A Palavra de Jesus não podia ser abstrata, mas encarnada no ser humano.

E aquele seu sorriso confortador acompanhado da frase “menino, como vai?” Quantas vezes fiquei pensando sobre a expressão “menino” e entendi realmente que perante o nosso Mestre Nazareno somos sempre pequenos em segui-Lo, isto é, “menino”. A vida de Bruno foi defender os meninos e meninas. Homem de Deus, defensor dos direitos humanos fundamentados em Deus, nosso Criador.

Era isso que lhe dava paciência em nunca desistir. Sempre firme na sua fé, não se deixava distrair pelos poderes do mundo, em seguir este caminho de plasmar de novo a verdadeira vida perdida ou corrompida. Portanto, nosso padre Bruno foi um grande colaborador de Jesus Cristo por recriar e defender a VIDA, remando contra a correnteza das injustiças sociais.

O sorriso dele ainda está estampado na minha memória. Quando o via por demais concentrado e com rosto sisudo, aí percebia que algo o preocupava muito. E uma das coisas que o deixava bem triste e em silêncio era ver coirmãos e pastores da Igreja fazendo escolhas bem longe do Reino de Deus.

No entanto, ele sempre se deixava vencer pela Misericórdia de Deus.

Assim, acreditava cegamente que todo mundo, com o tempo, era vencido pelo amor do nosso Criador. Quando chegava a essas considerações, sempre o acompanhava aquele sorriso de compaixão e de bondade que invade o ser humano, injetando total esperança. E por que isso? Porque vivia tudo como bom discípulo do Mestre, aberto a todo mundo, sem preconceitos de credo religioso ou político.

Para o sacerdote amigo dos mais fracos da sociedade, todo mundo era irmão ou irmã. Ele acreditava nas pessoas também quando aprontavam porque focalizava mais no aspecto positivo e discernia neles a ação do Reino de Deus. Padre Bruno foi um apaixonado por Jesus Cristo e pelas pessoas, sobretudo daquelas que tinham mais dificuldades ou eram abandonadas.