Pe. Claudio Pighin

Piedade de mim, ó Deus!


Toda vez que rezo este salmo, eu me apaixono na busca do meu Deus. Sinto-me em sintonia com Ele como um filho com o pai que se sente acolhido e protegido. Este amor que acolhe e protege se revela força e coragem para interpretar corretamente a nossa vivência humana, a nossa condição de fraternidade. Interessante ver como as nossas certezas de vida surgem dessa nossa condição de humildade e não das arrogâncias dos poderes que o mundo nos oferece. Somos sedentos de vida e este salmo 50 das Sagradas Escrituras nos ajuda a encontrá-la.

“Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado. Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado.

Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento. Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.

Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.

Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.

Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.

Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai. Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza. De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso Santo Espírito.Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa. Então aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores.

Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará. Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores.Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.

Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar. Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém. Então aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas.”

Este salmo é uma oração do rei Davi que se arrependeu pela sua conduta adúltera e homicida. Isto aconteceu quando o profeta Natã denunciou Davi por ter conspirado a morte de Urias para ficar com a mulher dele (2 Samuel 11-12). Isto desagradou seriamente Deus e como resposta Davi pediu perdão. Esse perdão revela a ameaça e tristeza do pecado. É interessante ver também como a confissão do pecado abre para a justiça de Deus que purifica o ser humano, resgata a criatura para não ser escrava do seu pecado.Esse testemunho de Davi nos ajuda a compreender o quanto é importante reconhecermos os nossos pecados e invocar o perdão de Deus. Continuando com a leitura do salmo, se vê por essa declaração, ‘eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado’, o famoso texto do pecado original em que se reconhece os limites radicais da criatura humana. E a confissão das culpas se reconhece como Deus é o autor da nossa vida. O ser humano depende Dele para poder resgatar constantemente a verdadeira vida da corrupção que lhe está na sua frente.Nesse sentindo, Davi pede a Deus que recri um coração novo, isto é, uma vida nova, para vivificar a sua vida. De modo que oSenhor não só perdoa, mas plasma de novo o pecador, dando-lhe uma nova consciência e uma fé pura para praticar o verdadeiro culto. A Bíblia toda marca a forte presença do pecado que é contrastada pela esperança do perdão. Se tem pecado também existe a graça do perdão. O Papa Francisco assim se expressou a respeito, na missa em Santa Marta no dia 23.01.2015: “O Deus que perdoa: o nosso Deus perdoa, reconcilia, renova a aliança e perdoa. Mas ‘como perdoa Deus? Antes de tudo, Deus perdoa sempre! Nunca se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Mas ele nunca se cansa de perdoar’. A ponto que ‘quando Pedro pergunta a Jesus: quantas vezes devo perdoar, sete vezes?’, a resposta que recebe é eloquente: ‘Não sete vezes mas setenta vezes sete’. Ou seja, ‘sempre’, porque é precisamente assim que Deus perdoa: sempre. Por conseguinte, se viveste uma vida com tantos pecados, tantas coisas más, mas no fim, um pouco arrependido, pedes perdão, ele perdoa-te imediatamente. Ele perdoa sempre. É preciso apenas arrepender-se e pedir perdão: nada mais! Não se deve pagar nada! Cristo pagou por nós e perdoa sempre, e não há pecado que ele não perdoe”.