Pe. Claudio Pighin

São amáveis as vossas moradas, senhor!


A nossa existência nem sempre é fácil. É marcada pelas alegrias e dores, pelas maravilhas e incertezas, pelas tranquilidades e sofrimentos. A nossa vida é uma peregrinação, marcada pelas provisoriedades da caminhada. Na peregrinação não temos certezas, a não ser o presente que enfrentamos todos os dias. A respeito disso, quero relembrar que o nosso Deus se define na fala com Moisés como “Eu Sou”, verbo presente. É o presente que define Deus e, portanto, também a nossa vida. Essa é a grande certeza. Nesse sentido, leia o salmo 83 das Sagradas Escrituras que te ajuda a compreender a tua vida a partir de Deus:

“Como são amáveis as vossas moradas, Senhor dos exércitos! Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo. Até o pássaro encontra um abrigo, e a andorinha faz um ninho para pôr seus filhos. Ah, vossos altares, Senhor dos exércitos, meu rei e meu Deus! Felizes os que habitam em vossa casa, Senhor: aí eles vos louvam para sempre. Feliz o homem cujo socorro está em vós, e só pensa em vossa santa peregrinação. Quando atravessam o vale árido, eles o transformam em fontes, e a chuva do outono vem cobri-los de bênçãos. Seu vigor aumenta à medida que avançam, porque logo verão o Deus dos deuses em Sião. Senhor dos exércitos, escutai minha oração, prestai-me ouvidos, ó Deus de Jacó. Ó Deus, nosso escudo, olhai; vede a face daquele que vos é consagrado. Verdadeiramente, um dia em vossos átrios vale mais que milhares fora deles. Prefiro deter-me no limiar da casa de meu Deus a morar nas tendas dos pecadores. Porque o Senhor Deus é nosso sol e nosso escudo, o Senhor dá a graça e a glória. Ele não recusa os seus bens àqueles que caminham na inocência. Ó, Senhor dos exércitos, feliz o homem que em vós confia.”

Esse belo salmo é dedicado ao Deus da vida, verdadeira potência do universo que tudo lhe pertence. A definição de “Deus dos exércitos” quer dizer que Ele é Senhor das armadas das estrelas, de todo o cosmo e defensor de Israel, seu povo escolhido. Esse hino se contextualiza, provavelmente, na famosa festa das tendas. Estamos na estação do outono que é o tempo de colheita e também revivendo a peregrinação no deserto da grande libertação da terra de escravidão do Egito. Portanto, é a celebração no Templo onde a peregrinação é destinada; é tudo aí que se centraliza a peregrinação humana.

Assim, o salmo evidencia dois aspectos do famoso Templo: a) De um lado, mostra o Templo sem movimento, onde se contempla como fosse um sinal de uma residência espiritual, isto é, da sintonia com Deus. Quer dizer que somente no Templo tem vida, porque aí te defende de todo mal e protege a mesma vida. Nesse lugar sagrado, o fiel que reza pode contemplar os passarinhos, devido a sua grandeza tem os próprios ninhos, voando liberalmente e dando show de felicidade, simbolizando assim a felicidades dos sacerdotes que tem a sorte de morarem no Templo, demonstrando uma residência definitiva e afastando desse modo a peregrinação símbolo da provisoriedade.

b) Do outro lado, focaliza sobre a peregrinação. De fato, no salmo, vemos a procissão do peregrino que vem do norte, passa pelo Líbano, de aldeia para aldeia, naturalmente enfrentando tempo de sol e de chuva, e esta última representando um futuro cheio de bênçãos, revigorado pelas aguas refrescantes. Na medida em que se aproximar da cidade santa, ele, peregrino, pode avistar no horizonte o Santuário de Deus. É toda uma linguagem simbólica essa peregrinação que representa a dureza da vida, os sofrimentos que, porém, vale a pena tudo isso porque leva ao encontro maravilhoso e alegre com o Deus da vida. Achei interessante o comentário do papa Francisco a respeito disso na audiência- geral de 26 de abril de 2017:

“A nossa existência é uma peregrinação, temos uma alma migrante. Somos um povo de caminhantes, tendo Jesus por companheiro de viagem: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos». Assim quis Ele assegurar-nos de que não Se limita a esperar-nos lá no fim da nossa viagem, mas já nos acompanha em cada um dos nossos dias”.

E acrescentou também isso: “Não haverá dia algum da nossa vida em que deixaremos de ser objeto da sua solicitude. E Deus cuidará de todas as nossas necessidades; não nos abandonará nos dias tenebrosos da provação. De fato, a esperança cristã não encontra a sua raiz na sedução radiosa do futuro, mas na certeza daquilo que Deus nos prometeu e realizou em Jesus Cristo”.