Pe. Claudio Pighin

Se o senhor não tivesse estado conosco!


O salmo 123 das Sagradas Escrituras nos narra uma oração que muitos peregrinos faziam durante o rito litúrgico ao chegar ao templo de Sião. O salmo focaliza dois momentos diferentes. No primeiro momento, diz o seguinte: “Se o Senhor não tivesse estado conosco, os homens que se insurgiram contra nós teriam então nos devorado vivos. Quando seu furor se desencadeou contra nós, as águas nos teriam submergido. Uma torrente teria passado sobre nós. Então, nos teriam recoberto as ondas intumescidas.”

O que notamos aqui? Um simbolismo negativo das imponentes águas. Elas, nas Sagradas Escrituras, são imagens do caos, do mal e da destruição. Representam o mal. E parece que esse fiel tinha uma sensação tão forte de se encontrar ao longo de uma praia com ondas gigantescas que a invadem. Águas que submergem a terra firme. Depois o autor desse salmo passa dessa imagem das águas ao simbolismo do caçador: “Bendito seja o Senhor, que não nos entregou como presa aos seus dentes. Nossa alma escapou como um pássaro, dos laços do caçador. Rompeu-se a armadilha, e nos achamos livres.”

O fiel súplica ao seu Deus ajuda e força para ser libertado. Portanto, mostra como o fiel bendize o seu Deus por tê-lo tirado do perigo do seus caçadores: “Nosso socorro está no nome do Senhor, criador do céu e da terra.” Assim, estamos reconhecendo que águas e caças se entrelaçam, para fazer o que? Para mostrar como os perigos mortais da vida estão presentes, mas quem confia no Senhor não deve temer porque será liberto de tudo isso. Não temerá nenhuma cilada.

Assim sendo, o salmo se resume justamente na frase inicial: “Se o Senhor não tivesse estado conosco!” As dramaticidades da vida enfrentadas com Deus não derrotam o ser humano. De fato, o salmo revela as consequências se Deus não estivesse com a pessoa. Aquele que evitou por pouco a morte, preservou a vida sem ser atingido de nada, sente-se de viver mais ainda. E termina o salmo dizendo: “Nosso socorro está no nome do Senhor” e desse jeito sente-se tranquilo e sereno para conduzir a sua vida.

O papa Francisco, na audiência geral da quarta-feira, 25.01.2017, disse o seguinte: “Caros irmãos e irmãs, nunca coloquemos condições a Deus mas, ao contrário, deixemos que a esperança vença os nossos receios. Confiar em Deus quer dizer entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusive que a sua salvação e o seu auxílio cheguem a nós de modo diverso das nossas expetativas. Pedimos ao Senhor vida, saúde, afetos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é possível experimentar a paz inclusive na doença e que até na solidão pode haver serenidade, e bem-aventurança no pranto. Não somos nós que podemos ensinar a Deus o que Ele deve fazer, aquilo de que temos necessidade. Ele sabe-o melhor do que nós e devemos ter confiança porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos.”