Pe. Claudio Pighin

Senhor, atendei-me, porque sou pobre!


Visitei um dia desse uma senhora de 86 anos que me confiou o drama de sua vida. Ela tinha uma ajuda mensal que garantia sua sobrevivência, mas de repente perdeu tudo. Cortaram a ajuda. A sua geladeira tinha somente uma garrafa de plástico com água. Era tudo que tinha para a sua alimentação. Não sabia mais o que fazer e a quem pedir auxílio. Todo mundo sumiu do seu redor, até o seu cachorro porque não tinha o que comer. Aquilo, porém, que me chamou atenção, perante essa dramaticidade de não ter nada e esquecida por todo mundo, foi essa sua firme declaração em confiar em Deus: “Eu creio que Deus não me abandona, aliás vai me tirar dessa situação de falta de tudo.” A transparente confiança dessa senhora de idade me ajudou a entender a coragem dela em saber lutar na vida não obstante toda a sua pobreza. Essa coragem de não se deixar levar pelo desânimo e tristeza, mas acreditar que tudo vai reverter com a ajuda Deus. O salmo 85 das Sagradas Escrituras nos ajuda a compreender essa confiança dessa pobre senhora.

“Inclinai, Senhor, vossos ouvidos e atendei-me, porque sou pobre e miserável. Protegei minha alma, pois vos sou fiel; salvai o servidor que em vós confia. Vós sois meu Deus; tende compaixão de mim, Senhor, pois a vós eu clamo sem cessar. Consolai o coração de vosso servo, porque é para vós, Senhor, que eu elevo minha alma. Porquanto vós sois, Senhor, clemente e bom, cheio de misericórdia para quantos vos invocam. Escutai, Senhor, a minha oração; atendei à minha suplicante voz. Neste dia de angústia é para vós que eu clamo, porque vós me atendereis. Não há entre os deuses um que se vos compare, Senhor; não existe obra semelhante à vossa. Todas as nações que criastes virão adorar-vos, e glorificar o vosso nome, ó Senhor. Porque vós sois grande e operais maravilhas, só vós sois Deus. Ensinai-me vosso caminho, Senhor, para que eu ande na vossa verdade. Dirigi meu coração para que eu tema o vosso nome. De todo o coração eu vos louvarei, ó Senhor, meu Deus, e glorificarei o vosso nome eternamente. Porque vossa misericórdia foi grande para comigo, arrancastes minha alma das profundezas da região dos mortos. Ó Deus, os soberbos se levantaram contra mim, uma turba de prepotentes odeia a minha vida, eles que nem vos têm presente antes os olhos. Mas vós, Senhor, sois um Deus bondoso e compassivo; lento para a ira, cheio de clemência e fidelidade. Olhai-me e tende piedade de mim, dai ao vosso servo a vossa força, salvai o filho de vossa escrava. Dai-me uma prova de vosso favor, a fim de que verifiquem meus inimigos, para sua confusão, que sois vós, Senhor, meu sustento e meu consolo.”

Esse salmo nos mostra como o fiel pobre confia no Senhor. É Ele a única segurança, como bem demonstrou àquela senhora, bem velhinha. Deus é a única e verdadeira certeza que não abandona o necessitado. Temos nesse hino um agradecimento e a própria manifestação de fé pelas obras divinas presente na humanidade e no universo. Além do mais, um canto maravilhoso, sem confins, de contemplação da ação de “Adonaj”, isto é, do Senhor. Por que aqui se usa esse nome “Adonaj”? Esse termo usado pelos judeus permitia de evitar a pronúncia do nome santíssimo de Ywhé. Segundo eles, o ser humano não tem essa capacidade de pronuncia-Lo. É demais para ele.

O fiel aqui demonstra uma total segurança na vinda de Deus que vai derrotar o mal na história. O bem triunfa sobre o mal. Assim sendo, testemunha-se o otimismo da fé, não obstante as dramaticidades que a vida comporta. E nessa oração, desse salmo, podes perceber aquilo que Jesus tinha falado de pedir incessantemente para que Deus possa conceder-nos. E o papa Francisco, por ocasião da conclusão do ano da fé, na praça S. Pedro dia 24.11.2013, falou o seguinte: “Cristo é o centro da história da humanidade e também o centro da história de cada homem. A Ele podemos referir as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de que está tecida a nossa vida. Quando Jesus está no centro, até os momentos mais sombrios da nossa existência se iluminam: Ele dá-nos esperança, como fez com o bom ladrão. (…) Enquanto todos os outros se dirigem a Jesus com desprezo – «Se és o Cristo, o Rei Messias, salva-Te a Ti mesmo, descendo do patíbulo!» –, aquele homem, que errou na vida, no fim agarra-se arrependido a Jesus crucificado suplicando: «Lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino» (Lc 23, 42). E Jesus promete-lhe: «Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso» (23, 43): o seu Reino. Jesus pronuncia apenas a palavra do perdão, não a da condenação; e quando o homem encontra a coragem de pedir este perdão, o Senhor nunca deixa sem resposta um tal pedido.”