Pe. Claudio Pighin

Senhor, vós me perscrutais e me conheceis


O salmo 138 das Sagradas Escrituras é um canto ao Deus Todo-poderoso, onisciente e onipotente. Esse hino nos oferece uma verdadeira sabedoria para contemplar o grande mistério do Deus transcendente, mas, ao mesmo tempo, presente na história. Podemos dividir o canto em quatro partes. Os versículos de 1 a 6 revelam que Deus perscruta e conhece profundamente a vida; os versículos de 7 a 12 mostram como Deus está presente em qualquer lugar; os versículos de 13 a 18 descrevem a criação como um todo e, por enfim, os versículos de 19 a 24 descrevem como Deus perscruta tudo e julga o mal que paira ao redor da obra criada por Ele, e como sabe libertar.

O canto manifesta, na substância, como Deus salva toda a humanidade em todas as suas dimensões históricas e de espaço. Nos primeiros seis versículos, nota-se destacadamente o verbo ‘conhecer’. Isto no sentido que Deus conhece tudo e, portanto, revela a comunhão Dele com o ser humano: “Sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos.” No entanto, os versículos a seguir, de 7 a 12, descreve a experiência louca do ser humano de viver sem Deus. Por isso o fiel declara: “Para onde irei, longe de vosso Espírito? Para onde fugir, apartado de vosso olhar? Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também. Se tomar as asas da aurora, se me fixar nos confins do mar, é ainda vossa mão que lá me levará, e vossa destra que me sustentará. Se eu dissesse: “Pelo menos as trevas me ocultarão, e a noite, como se fora luz, me há de envolver”. As próprias trevas não são escuras para vós, a noite vos é transparente como o dia e a escuridão, clara como a luz.”

Os versículos de 13 a 18 proclamam a grandeza do ser humano, obra maravilhosa de Deus: “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso.” Com essa linguagem simbólica de ‘plasmar’ e ‘tecer’ revela a ação de Deus na criação do ser humano. O nosso Deus se torna como se fosse um escultor da nossa vida. Quanto é preciosa a vida que está em nossas mãos. Somos um canteiro de obras de nosso Senhor. O milagre da criação e da própria existência é contemplado pelo autor do salmo com a fé e a sua expressão poética.

E, por fim, os versículos de 19 a 24, mostram como fiel tenta se identificar com Deus, confiando totalmente na sua ação libertadora: “Oxalá extermineis os ímpios, ó Deus, e que se apartem de mim os sanguinários! Eles se revoltam insidiosamente contra vós, perfidamente se insurgem vossos inimigos. Pois não hei de odiar, Senhor, aos que vos odeiam? Aos que se levantam contra vós, não hei de abominá-los?…Perscrutai-me, Senhor, para conhecer meu coração; provai-me e conhecei meus pensamentos. Vede se ando na senda do mal, e conduzi-me pelo caminho da eternidade.” O salmista mostra que o juízo final condenará o mal e a idolatria, oposição a Deus, será derrotada.