Pe. Claudio Pighin

Tende piedade de mim, ó meu Deus!


Parece que o mal toma conta da nossa vida. Há dias insuportáveis pela tamanha dor que os perseguidores infligem aos seus perseguidos. Certa vez, vi uma pobre senhora tentando ser atendida em um órgão público, mas infelizmente não conseguia obter o que pretendia. Era uma senhora curvada, de uma idade bem avançada e com uma roupa modesta, bem pobre. Estava ao seu lado, segurando-lhe a mão, um garoto. Depois soube que, sem saúde, queria ver se tinha chance de poder ter uma ajuda beneficio para a sua vida. Depois de tanto insistir e nada conseguiu, de maneira bem desanimada, foi-se embora dizendo: “Por que esse tal de ‘pode e não pode’? Mas eu estou doente e por que não entendem?” E o garoto do seu lado: “Vovó, vamos para casa, estou com fome e cansado”. E a avó, arrastando as pernas, clamou em voz alta: “Ó meu Deus!” Como essa senhora, quantas pessoas enfrentam a vida de maneira bem sofrida e incompreendida. E essas pessoas ficam esquecidas nos seus direitos. Como, portanto, reverter uma vida esquecida, não reconhecida? O salmo 56, das Sagradas Escrituras, nos ilumina a respeito:

“Tende piedade de mim, ó Deus, tende piedade de mim, porque a minha alma em vós procura o seu refúgio. Abrigo-me à sombra de vossas asas, até que a tormenta passe. Clamo ao Deus Altíssimo, ao Deus que me cumula de benefícios. Mande ele, do céu, auxílio que me salve, cubra de confusão meus perseguidores; envie-me, Deus, a sua graça e fidelidade. Estou no meio de leões, que devoram os homens com avidez. Seus dentes são como lanças e flechas, suas línguas como espadas afiadas. Elevai-vos, ó Deus, no mais alto dos céus, e sobre toda a terra brilhe a vossa glória. Ante meus pés armaram rede; fizeram-me perder a coragem. Cavaram uma fossa diante de mim; caiam nela eles mesmos. Meu coração está firme, ó Deus, meu coração está firme; vou cantar e salmodiar. Desperta-te, ó minha alma; despertai, harpa e cítara! Quero acordar a aurora. Entre os povos, Senhor, vos louvarei; salmodiarei a vós entre as nações, porque aos céus se eleva a vossa misericórdia, e até as nuvens a vossa fidelidade. Elevai-vos, ó Deus, nas alturas dos céus, e brilhe a vossa glória sobre a terra inteira.”

O salmo inicia invocando a presença do Senhor que se manifesta com a proteção simbólica das asas do Altíssimo. Em contrapartida, o mal é representado pelos “leões, que devoram os homens com avidez”. Essa simbologia do animal feroz, que representa a ruindade dos perseguidores, é uma ameaça constante na vida das pessoas. Perante essa ameaça, o fiel contrapõe a confiança total em Deus e por isso consegue dormir tranquilo. Esses malfeitores, perseguidores dos ‘justos’, são tão fortes que se parecem como um bando de caçadores no mato que encurralam a própria caça.
Não tem como escapar da cilada dessas pessoas opressoras que pensam somente para si. Tudo parece que o mal é o vencedor. No entanto, aqui está a grande novidade: o mal é derrotado. Isto é, os perseguidores dos justos que “cavaram uma fossa diante de mim; caiam nela eles mesmos”. E o autor deste salmo manifesta esta confiança através da alegria do seu coração em viver o início do dia cheio de vida. Sente-se tão forte e animado que invoca com toda a força o despertar do dia, expressão de vitalidade e de alegria. O fiel experimenta essa profunda alegria na sua libertação das ameaças do seu perseguidor.

Assim, ainda hoje, a pessoa que se sente livre de toda ameaça manifesta a sua tranquilidade e serenidade, que vem do profundo do seu ‘coração’. E o salmo conclui com um hino de louvor às duas virtudes fundamentais da aliança, o amor e a fidelidade, que Deus consagrou com o seu povo. E o papa Francisco nos ilumina mais ainda com essas palavras pronunciadas na audiência geral de 29 de março de 2017: “A profunda esperança radica-se na fé e, precisamente por isso, é capaz de ir além de toda a esperança. Sim, porque não se fundamenta na nossa palavra, mas na Palavra de Deus. Então, inclusive neste sentido somos chamados a seguir o exemplo de Abraão que, não obstante a evidência de uma realidade que parece destinada à morte, confia em Deus e «estava plenamente convencido de que Deus era poderoso e podia cumprir o que prometera» (Rm 4, 21). Gostaria de vos fazer uma pergunta: nós, todos nós, estamos persuadidos disto? Estamos convictos de que Deus nos ama e que está disposto a cumprir tudo aquilo que nos prometeu? Mas, padre, quanto temos que pagar por isto? Só há um preço: «abrir o coração». Abri os vossos corações e esta força de Deus levar-vos-á em frente, fará milagres e ensinar-vos-á o que é a esperança. Eis o único preço: abri o coração à fé e Ele fará o resto.”