Ulisses Laurindo

A dor da Chapecoense


Este espaço que ocupo sempre o faço dominado pela alegria e a concepção de que o esporte é o conjunto e forma do dom da vida, esta que nos foi dada por uma Inteligência Maior, e que até hoje está envolta em simbolismo jamais decifrado e, como reza a Bíblia, ao definir a morte “que é a separação da alma e do corpo enquanto a morte espiritual é a separação da alma e de Deus.” É a explicação e o consolo nesta hora de tristeza pelo infausto acidente com o avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, fundada em 1973, vitimando 75 dos 81 passageiros.

O esporte em geral e o futebol por dimensão são, como disse, alegria, sempre afastando a tristeza para escanteio. Essa alegria todos nós vivenciamos domingo, há apenas três dias, vendo o campeão Palmeiras levantando o título do Brasileirão, diante de uma

Chapecoense corajosa, eficiente, limpa, honesta, gentil e briosa, valorizando a conquista do Verdão, que somou sua alegria ao coroamento da dedicação e esforço. O perdedor, no caso a Chapecoense, deixou o gramado inferiorizado no placar, é certo,mas com orgulho tão igual como o do vencedor.

A trajetória da Chapecoense, fundada em maio de 1973, já era vista como do primeiro plano nacional, atuando de igual contra adversários de tradições longevas, sem, porém, desmerecer em seu espírito de luta. A prova disso é a posição alcançada no Brasileirão que termina domingo 11, obtendo a nona colocação, perto de Grêmio, Botafogo, Atlético Paranaense e deixando para trás grandes do futebol do país, Ponte Preta, São Paulo, Cruzeiro e Fluminense . Outro gigantismo da personalidade da associação de Santa Catarina seria a inédita final que faria da Copa Sul-Americana, com o Atlético Nacional, da Colômbia, amanhã, destino no qual encontrou o infortúnio.

Não podemos dizer às vítimas o quanto sentimos pela perda de vocês, e o tanto que fizeram para fazer o mundo melhor, através da alegria. Todos nós sabemos definir a morte e ela não é mistério para ninguém. O lamento em episódio como este, a 34 quilômetros da cidade de Medelin, hoje pacificada, humana e diferente da época em estive em Cáli, em 1964, é, repito, que a morte de cada ser humano, brilhante ou comum não seja gratuita, deixando em todos nós, mesmo sem qualquer ligação com as vítimas, a sensação de desamparo, o qual, entretanto, cede lugar a tantas outras desventuras e também muitas alegrias. O reconhecimento imediato das dores de hoje atingiram seu auge através do Atlético Nacional, que vai propor que a Chapecoense seja declarada campeã da Copa Sul-Americana. Gesto nobre comum ao esporte.