Ulisses Laurindo

Encurralado pelos selvagens, o futebol precisa reagir com palavras firmes e certas


Em manifestação sobre uma das mais desoladoras e repugnantes cenas recentes do futebol brasileiro, o presidente do Internacional apontou falta de bom senso. Ao comentar o empate sofrido em casa depois de abrir 2 a 0 sobre o Fortaleza, o diretor do Atlético-MG disse que estavam todos indignados. Não é novidade, tampouco exclusividade do futebol, a confusão de valores da sociedade. A agressão da torcedora colorada contra a gremista diante do filho que havia ganhado uma camisa tricolor do ídolo não é mera questão de bom senso. É uma ferida aberta num momento que deveria ser apenas mágico e eterno para aquele garoto.

Por outro lado, não cabe indignação com um resultado construído dentro das regras do esporte. Jogos com esse roteiro acontecerão até o fim dos tempos pelo simples fato de que sempre haverá outra equipe que estuda, trabalha e treina para fazer sua estratégia prevalecer sobre a do adversário, seja ele bilionário ou endividado, ofensivo ou defensivo, líder ou lanterna.

São nocivas as mensagens habitualmente transmitidas pelos personagens do futebol. Dos protagonistas, jogadores, a técnicos e dirigentes coadjuvantes. É preciso entender, com urgência, a necessidade de desviar o rumo de uma tragédia. Ela acontecerá se continuarem a ser tratadas com normalidade emboscadas em aeroportos, ruas e hotéis.

A selvageria no Beira-Rio, as ameaças a Diego e demais flamenguistas, os protestos contra os palmeirenses, deveriam provocar reações fortes de jogadores dos 20 clubes da Série A. Passou há muito a hora de agirem como classe, e não apenas por interesses individuais. É com isso que todos precisam se indignar. Os artistas do espetáculo não podem assistir passivamente à destruição da relação com o público que ainda se dispõe a ter o jogo como paixão, e não como argumento para tirar do armário sua desumanidade.

O Brasil vive um período doente no qual palavras valem pouco e têm significado facultativo, que atende conveniências. O futebol precisa passar uma mensagem clara. Os clubes demonstram semanalmente criatividade e rapidez quando o intuito é provocar adversários nas redes sociais.