Ulisses Laurindo

O legado de Lauda


Por mais que o estado de saúde de Niki Lauda não indicasse que ele fosse viver por muito tempo depois do transplante de pulmão, a perda sempre choca. Não o vi correr, mas desde pequeno soube da sua importância. Meu avô foi o grande mestre que tive, desde pequeno me ensinou tudo sobre o esporte. Foi ele quem me levou para conhecer pela primeira vez um carro de F1, ainda em 1986, e ele sempre falou do Niki Lauda. Conforme fui crescendo, passei a ler muitas revistas, jornais e livros sobre Fórmula 1, e passei a entender ainda mais a relevância deste personagem único. Pragmático, genial e, sobretudo, corajoso.

Só mesmo alguém com muita coragem para voltar a correr depois daquele acidente de 1976 e, paradoxalmente, desistir da última corrida daquele ano por causa da chuva, ciente de que levaria bordoada de todos os lados por falta de… coragem. Simplesmente, a falta da pálpebra no olho direito não o permitia enxergar no aguaceiro de Fuji. Logo, ele recolheu o carro aos boxes porque aquilo não fazia sentido. Niki foi corajoso ao bancar sua posição. Foi bi em 1977, e depois mandou a Ferrari às favas.

Como não fazia sentido continuar “andando em círculos”, justificativa dada por Niki para encerrar abruptamente a carreira em 1979 para fundar sua primeira companhia aérea, a Lauda Air. Quando as finanças não andavam lá muito bem, outra vez foi pragmático ao aceitar uma oferta milionária da McLaren. E, com extrema inteligência, bateu o grande Alain Prost para ser tri em 1984.

Depois de parar de correr, Lauda sempre manteve a verve crítica em suas declarações, seja como comentarista da TV alemã RTL, seja dando entrevistas. Como consultor da Ferrari, botou a cara à tapa ao se juntar a Gerhard Berger, Michael Schumacher e Christian Fittipaldi para restaurar a Associação de Pilotos quando das mortes de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger.

Falando em cara à tapa, o que dizer de sua jornada na Mercedes? Niki Lauda foi peça fundamental na contratação de Lewis Hamilton em 2012, ao convencer o inglês de que a equipe alemã era o futuro da Fórmula 1. Na época, quase todo mundo disse que Hamilton estava fazendo uma colossal bobagem ao deixar a – na época – competitiva McLaren. Deu no que deu.

Niki seguiu seu caminho e lamentavelmente não tive a oportunidade de falar com ele novamente. A missão do austríaco Andreas Nikolaus Lauda está cumprida. Fica a lenda.