Ulisses Laurindo

Portuguesa: 99 anos em declínio


Artur costuma acordar cedo, muitas vezes antes de o sol nascer. Entre um gole e outro de café, checa as centenas de mensagens que recebeu no celular. A maior parte é de amigos de arquibancada e tem a ver com o time do coração dele. O primeiro “bom dia” vem do rádio, que de uns anos para cá não traz mais notícias do clube que Artur ama. Ele nem procura no jornal ou na televisão, porque sabe que não encontrará. Talvez por isso tenha tanta referência em casa.

No quarto, na sala, na cozinha e até na varanda do apartamento há tudo quanto é acessório da equipe. Chaveiro, caneca, copo, prato, carrinho de coleção, etc. Mas, ainda assim, não é ali na Vila Albertina que Artur se sente em casa.

Ele pega o carro e não vai muito longe, nem sai da Zona Norte de São Paulo. O refúgio preferido de Artur fica na região do Pari. Mais precisamente, no estádio do Canindé. Sim, ele é torcedor fervoroso da Portuguesa.

Artur Cabreira Gomes tem 63 anos e nem sabe precisar quando passou a ser lusitano. Quem vê hoje, imagina que já nasceu cantando o hino do clube. O pai era português, a mulher também e os filhos, óbvio, são torcedores da Lusa. Só que, entre tantas idas ao Canindé na semana, poucas são para ver jogos. Afinal, nos oito meses deste ano, o estádio passou quatro sem receber partidas.

As principais companhias de Artur são latas de tinta, rolos e pincéis. Artur criou e lidera o grupo SOS Canindé, formado por torcedores que tiram dinheiro do próprio bolso para reformar o estádio. Mesmo porque as últimas diretorias apenas deixaram as velhas arquibancadas se deteriorarem. “Compramos 92 latas de tinta e pintamos tudo. Limpamos e pintamos o fosso. Trocamos 31 lâmpadas dos refletores. Fomos para as cabines de imprensa, pintamos tudo e trocamos todos os vidros. Agora, estamos mexendo na pior situação: a marquise do estádio. Não tem um tostão da diretoria”, afirmou Artur.

O grupo percebeu que, perdendo o Canindé, a Portuguesa acaba. E esse risco não está tão distante. O estádio já foi a dois leilões por dívidas e só não acabou arrematado porque metade dele está em um terreno de concessão da prefeitura.

A torcida já entrou com pedido de tombamento do Canindé como patrimônio histórico. O objetivo é evitar que um 3º leilão aconteça e que algum investidor consiga um acordo.