Heraldo Almeida

Para onde vai o carnaval amapaense?


Depois da empolgação trazida pelos carnavais da segunda metade da década de 1990 e de grande parte da década de 2000, a década de 2010 está conseguindo consumir todas as conquistas acumuladas desde os primórdios dos desfiles das escolas de samba na Praça Barão, depois na Avenida FAB e no Sambódromo.

No carnaval dos quatro últimos anos não só o Sambódromo ficou em silêncio e sem o desfile das escolas de samba. Também as comissões de frente, mestres-salas e porta-bandeiras deixaram de evoluir, os carros alegóricos não saíram dos barracões, a rainha de bateria não se apresentou e as próprias baterias calaram e não permitiram que os enredos fossem desenvolvidos e os intérpretes pudessem cantar a todo fôlego.

Os brincantes não desfilaram e os torcedores não torceram. As equipes de apoio não apoiaram e os ambulantes não venderam. A imprensa não registrou, os espectadores ficaram em casa, mas todos se perguntando: para onde vai o carnaval amapaense?

O carnaval do Amapá que chegou a ser classificado como o mais importante da Amazônia, e um dos mais qualificados do Brasil encolheu, murchou e só não desapareceu completamente porque o calendário não permite e por ter, os foliões, ido atrás de alternativas e inventado o carnaval de Santana e mantido o carnaval de blocos, embora sem maiores pretensões a não ser brincar o carnaval. Não faz tempo que a pista da Avenida Ivaldo Veras era disputada por muitos e, pelo menos 40 mil pessoas participavam, diretamente, do carnaval amapaense e movimentavam valores que eram significantes para os grandes, médios e pequenos empresários e para aqueles que exerciam a atividade comercial apenas no período do carnaval – os ambulantes. Além desses as costureiras e costureiros, os coreógrafos e tantos outros profissionais participavam do projeto carnaval, impulsionando a economia, a cultura e dando oportunidade para os lazeres particulares.

Nos últimos quatro anos a criatividade dos carnavalescos do Estado do Amapá foi congelada por um grupo que está tendo dificuldades para justificar a interrupção, a falta de compreensão da realidade e, principalmente, deixando de reconhecer a capacidade criativa daqueles que poderiam estar comandando o carnaval no Amapá e se deixaram dominar por aqueles que nunca vão interpretar o carnaval como uma festa do povo e sim como uma janela para mostrar seu egoísmo, vaidades e seus sonhos.

Mas a situação tem muito a ver com a interpretação da realidade de parte daqueles que assumiram a responsabilidade pela gestão dos interesses da população. Não é possível que não haja a percepção da importância do evento que no resto do Brasil só cresce e o setor público não tenha interesse em colocar-se parte do ambiente favorável para proporcionar oportunidade de festa para um povo que está desaprendendo a comemorar suas próprias conquistas.

Colocar a desculpa na crise é desconhecer a capacidade de superação de uma população que precisa apenas de oportunidades. Não dá para aceitar a punição da população só porque ela reclama dos serviços de saúde pública, de educação pública e da segurança pública.

Confundir essas coisas é encomendar a tristeza para os mais carentes, aqueles que não têm voz, mas que tem a maior dependência das decisões dos governantes.

O carnaval amapaense pode ficar reduzido à A Banda, aos poucos blocos e às muitas reclamações daqueles que querem apenas um motivo para ver que podem ser iguais aos outros e que crises se vence com alegria, competência e compromisso, não com abandono, descaso ou desculpa. (Rodolfo Juarez).

 

  • Dúvidas

A falta de atitudes e ações das escolas de samba e Liesap deixam dúvidas e interrogações a respeito da realização de mais um carnaval sem as escolas de samba no sambódromo, pelo quinto ano seguido, 2016/2017/2018/2019 e 2020.

 

  • Nova direção

A nova presidência da Liga das Escolas de Samba do Amapá (Liesap), eleita recentemente, ainda não se manifestou, oficialmente, sobre o calendário de eventos da instituição e não informa se está havendo reuniões com as escolas.

 

  • Projeto

Recentemente tomamos conhecimento por vídeo (whatsap), que a presidente da Liesap, Lizete Jardim, acompanhada de alguns dirigentes de escolas de samba, entregou ao governador Waldez Góes (durante um evento), o projeto do carnaval 2020.
Ficaria bem mais elegante, organizado e planejado, se a Liesap e escolas, agendassem um encontro exclusivo com o gestor estadual, como sempre aconteceu, e apresentassem oficialmente o projeto.

 

  • Festival

Chegando a informação que a Unifap vai realizar um festival de música, em dezembro, para melhor valorizar os artistas tucujus do segmento da música (compositores, músicos, cantores, produtores, etc). Bravo.

 

  • Vice

Bailarina e professora de dança, Cleide Façanha, é a nova vice-presidente do Conselho Estadual de Política Cultura-AP.
Ela foi reeleita, no último pleito, como Conselheira da cadeira da dança, agora também como a segunda pessoa do CEPC. Tem competência pra exercer a função. Parabéns.

 

  • Instrumental

Nesta quarta (14) tem o show “Amazônia Instrumental” na programação do projeto Sesc Amazônia das Artes, no salão de eventos do Sesc Araxá, às 20h. a entrada vale 1 kg de alimento não perecível.

 

  • É hoje

Nesta quarta (14) tem o espetáculo teatral, “Lugar da Chuva”, no Teatro das Bacabeiras, às 20h30 – um mergulho poético na Amazônia amapaense. Entrada franca.