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Nem “bandido” e nem “mocinho”

Pois bem, o mais absurdo dessa campanha, não são as pessoas tomarem lado, nesse caso o “vilão” e o “mocinho”, mas a banalização da vida, que nos leva ao completo estado da barbárie.


Maykom Magalhães
Colaborador

Estava acompanhando uma campanha nas redes sociais provocada por uma suposta garfe de Fátima Bernardes, onde, na versão dos manifestantes, teria induzido, não sei como porque confesso que não assisti o programa, a salvar a vida do “bandido” em detrimento da vida de um policial.

Pois bem, o mais absurdo dessa campanha, não são as pessoas tomarem lado, nesse caso o “vilão” e o “mocinho”, mas a banalização da vida, que nos leva ao completo estado da barbárie. O mais absurdo é ver pessoas de bem, pais de famílias, pessoas cristãs defendendo a execução sumária, a retirada de uma vida. Vivemos em um estado de direito, onde quem comete crime tem que ser punido pelo crime que cometeu, de acordo com o que está escrito nos infindáveis artigos, parágrafos e alíneas de nossas leis e, pelo que me consta, em nenhum deles está escrito ou permitido a pena de morte ou a execução sumária.

Tenho completa certeza que alguns interpretarão esse texto da forma que lhe é mais conveniente, com jargões do tipo: “Mais um defensor dos direitos humanos”; “Tá com pena de bandido? Leva ele pra sua casa!”. Outros dirão que estou contra a polícia. Na verdade, o que quero esclarecer aqui é que quando se diz respeito a uma vida, seja ela de quem for, não se pode fazer juízo de valor, porque a vida não tem preço e não é comparável, devendo-se fazer todos os esforços para preservá-la e isso é um dos pontos que nos diferencia dos animais.

O que dizer das manchetes dos últimos dias onde 7 pessoas foram executadas na cidade de Deus? São todos bandidos, mereceram morrer?

E o que merecem os Policiais do Bope RJ, tidos como exemplo dentro da Polícia como um batalhão incorruptível (quem lembra do filme Tropa de Elite?), que vendiam informações, armas e extorquiam traficantes? Merecem a pena de morte também? Por acaso a mesma lógica do “bandido bom é bandido morto” não deveria se aplicar a eles?

NÃO! Essa lógica não deveria se aplicar a ninguém, nem aos policiais e nem aos traficantes da favela, todos deveriam ser levados a julgamento, pagar pelo crime que cometeram, cumprir sua pena determinada por quem tem a competência de fazer isso e não por justiceiros travestidos de falsos moralistas. Nem vou entrar no mérito do nosso falho sistema judiciário e nem pelo fato de nossos presídios estarem abarrotados de pobres e negros, enquanto os crimes de colarinho branco demoram uma eternidade para serem julgados e sentenciados, isso é um papo para outro texto, mas a idéia é chamar a atenção pra um processo preocupante de banalização da vida, onde ao invés de as pessoas estarem cobrando justiça, estão apoiando, incitando e compartilhando com orgulho em suas redes sociais tais execuções, torturas e mutilações.

Execuções sumárias cometidas por agentes do estado, linchamentos cometidos pela população, presídios, repressão policial, e outras medidas paliativas e sem eficácia real, não resolverão o problema do tráfico e da violência enquanto existir pobreza

e miséria, enquanto a paisagem contrastar com favelas e condomínios de luxos. É preciso enfrentar o problema de forma muito mais profunda, precisamos repensar nosso sistema judiciário, desmilitarizar nossa polícia que ainda carrega a lógica da ditadura e o mais importante, investir pesado na educação, pois como afirmou Paulo Freire, tão questionado por aqueles que hoje defendem o “escola sem partido” e o “bandido bom é bandido morto”: “A educação não transforma o mundo, transforma pessoas e pessoas transformam o mundo!”
Menos ódio e mais bom senso!


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