Polícia

Sniper seguiu protocolo internacional para abater sequestrador e evitar morte de reféns, diz comandante do Bope no Amapá

Major Kleber Silva, comandante do Bope no Amapá, diz que força policial do Rio de Janeiro cumpriu a terceira alternativa tática do Protocolo Internacional de Gerenciamento de Crises .


Elden Carlos e Douglas Lima
Da Redação

Com base nos acontecimentos dessa segunda-feira, 20, na ponte Rio/Niterói, no Rio de Janeiro, o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Amapá, major PM Kleber Silva, detalhou o protocolo para procedimentos policiais que podem ser executados durante uma crise com a tomada de reféns.

No Rio, Willian Augusto da Silva, 20 anos, foi morto por um sniper (atirador de elite), do Bope, no curso de sequestro por ele mesmo praticado de um ônibus com 39 pessoas a bordo. Foram três horas e meia de cerco policial. O criminoso tinha uma arma de brinquedo e ameaçava incendiar o coletivo com coquetéis molotov.

Em Macapá, no estúdio da Diário FM 90,9, durante o programa LuizMeloEntrevista, na manhã desta terça-feira, 21, major Kleber – ao lado do subcomandante do Bope, major Pelaes, e do tenente Willian Leite, negociador do Batalhão – informou que num evento crítico, a exemplo do ocorrido no Rio de Janeiro, a polícia segue orientações do Protocolo Internacional de Gerenciamento de Crises.

O comandante do Batalhão de Operações Especiais explicou que o Protocolo Internacional de Gerenciamento de Crises é uma doutrina mundial, mas que cada país a adapta para as suas realidades, sem que lhe comprometa. Segundo a doutrina, há quatro formas de resolver uma crise com refém, chamadas de alternativas táticas.

A primeira forma é a negociação, a mais comum e menos traumática. O militar revelou que 99% dos eventos cruciais registrados no Amapá foram resolvidos pela negociação. Ele lembrou que em apenas uma vez o gerenciador de crises da polícia local teve que determinar a invasão do ambiente, isso em 2002.

A segunda alternativa tática é a utilização de técnicas não letais com munição de borracha (elastômero), contaminação do ambiente e imobilizações.

A terceira, tiro de comprometimento, praticado pelo sniper, foi a forma utilizada no Rio de Janeiro, pelo Batalhão de Operações Especiais, para pôr fim ao sequestro praticado pelo homem de 20 anos, protegendo os reféns.

O major PM Kleber listou a invasão como a quarta alternativa no trato com crises. É a medida mais extrema. A equipe tática invade o ambiente para salvar a pessoa ou as pessoas em poder do criminoso.

“É como se houvesse um uso progressivo, gradual da força, numa circunstância em que a negociação não se mostra viável”, pontuou Kleber, acrescentando: “No caso de ontem, no Rio de Janeiro, quando foi montado o teatro de operações, o primeiro passo foi estabelecer o perfil do causador da crise”.


O militar lembrou que os policiais na ponte verificaram que o sequestrador não era um criminoso habitual, mas alguém com distúrbio mental sem motivação clara para o cometimento do crime; alguém que simplesmente queria causar aquilo e estava determinado a prosseguir com o plano previamente elaborado.

Major Kleber, à luz do Protocolo Internacional de Gerenciamento de Crises, explicou que os negociadores têm a tarefa de conversar com o causador da crise, buscar convencê-lo a não realizar a ação, e em todo tempo se reportar com o gerente de crises, que é a figura que coordena o teatro da operação. Por fim, ensinou que os negociadores não tomam decisão, mas servem de intermediários entre o gerente e o causador da crise.

“A ordem final é do gerente da crise. É importante frisar que o negociador é apenas um dos profissionais que integram o teatro da crise. Atuamos verdadeiramente como equipe que deve manter essa troca de informações para esgotar todos os recursos. Também é necessário informar que o sniper, além de atirador, serve, por exemplo, como um observador do ambiente. Ele tem a habilidade de identificar situações pontuais do ângulo de visão que ele tem e tudo isso nos é repassado em tempo real. Numa situação como essa do Rio de Janeiro não existe lugar para o amadorismo. Tínhamos 39 pessoas em risco pleno de morte. Se esgotaram todas as possibilidades, então, o gerente da crise determinou a ordem para que o sniper, com o tiro de comprometimento, cessasse a ação criminosa e resguardasse aquelas mais de trinta vidas”, concluiu.


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