Cidades

Ex guarda da SUCAM denuncia efeito da contaminação pelo veneno DDT

Em entrevista contundente no rádio, agente denuncia como o Brasil demorou para se livrar dos produtos responsáveis por encurtar a vida de quem os manipulou em serviço


Cleber Barbosa

Da Redação

 

Ex agente da SUCAM, o técnico Cairo Trindade, que coordena hoje a Divisão de Saúde do Educandos na SEMED, em Macapá, denunciou nesta quinta-feira (27) que ex servidores da SUCAM foram infectados por anos pelo veneno DDT, usado por décadas para o combate a endemias como as doenças transmitidas por mosquitos nas regiões rurais e urbanas da Amazônia. Em entrevista ao programa Café com Notícia, na rádio Diário FM (90,9), ele disse que a negligência com que o país tratou o caso, muitos profissionais estão morrendo em consequência do envenenamento provocado pela exposição ao produto.

Ele explicou que países mais desenvolvidos, como a Austrália e toda a Europa, baniram o uso do DDT ainda em 1974, os Estados Unidos em 1976, mas o Brasil fez uso da substância até 2009. “E esses servidores trabalhavam apenas com um capacete de alumínio na cabeça, que também fazia mal por conta do clima, tanto que temos um índice de calvos na SUCAM enorme, assim como uma farda de caqui também imprópria para as nossas temperaturas e nenhum EPI [equipamento de proteção individual]”, detalha o representante.

Os antigos guardas da SUCAM eram, segundo Cairo Trindade, os últimos resquícios da presença do estado brasileiro em regiões isoladas da Amazônia. “Hoje nós estamos pleiteando a reparação não apenas da saúde, mas da vida de tantos servidores que foram por mais de cinquenta anos a única esperança de levar ações de saúde aos grotões da Amazônia”, disse ele.

 

Intoxicação
Na verdade, esses servidores usavam o DDT tendo com aplicadores umas bombas chamadas Hudson, com os guardas da Sucam sendo herdeiros de um conceito de sanitarismo campanhista, que veio desde Oswaldo Cruz até chegar ao modelo que marcou época no país. “Esses agentes usavam esse produto de forma inocente, sem saber o mal que aquele pesticida fazia à própria saúde”, completa.

Os ex agentes da SUCAM acompanham a tramitação de duas PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que visam em primeiro plano uma indenização a título de reparação à saúde e uma outra que versa sobre a criação de um plano de saúde aos trabalhadores intoxicados. “Hoje a expectativa de vida média do brasileiro é de setenta e cinco anos, a do guarda de endemias é de apenas cinquenta e oito anos, então até o ano passado já tivemos trezentos e quarenta e três óbitos de servidores, sendo que duzentos e cinquenta morreram com menos de cinquenta anos de idade”, disse o representante.

A antiga SUCAM (Superintendência de Campanha de Saúde Pública) foi a fusão na década de 1970, do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENERU) com a Campanha de Erradicação da Malária (CEM). Hoje deu lugar à FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), que recentemente com o processo de municipalização do SUS (Sistema Único de Saúde) em 2001 a área técnica da FUNASA passou toda para as prefeituras.


Deixe seu comentário


Publicidade