Maio Laranja: Juíza diz que 90% dos abusos sexuais de crianças e adolescentes acontecem no seio familiar
Coordenadora da campanha Maio Laranja, do TJAP, juíza Larissa Antunes afirma que os abusos sexuais de menores acabam acontecendo dentro do próprio seio familiar, tendo como ponto de partida a relação de confiança criada entre vítima e abusador.

Lana Caroline
Da Redação
A juíza de Direito Larissa Antunes, coordenadora da campanha Maio Laranja, encabeçada pelo Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), revelou durante entrevista nesta terça-feira (18), ao programa radiofônico LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM), que cerca de 90% dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes ocorrem dentro do seio familiar.
A magistrada fez referência ao percentual ao comentar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data foi instituída pela Lei 9.970/2000. De acordo com a juíza, entender a origem da campanha Maio Laranja incentiva que todo o País esteja em alerta sobre a necessidade de se debater e combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.
“Antes de tudo esse é um problema social. Estudos revelam que 90% dos abusos e exploração sexual de menores ocorrem no seio familiar. Em geral, são praticados por pessoas muito próximas das vítimas, como vizinhos, padrastos, madrastas e até pessoas com laços de sangue. É importante frisar que tanto meninas quanto meninos são abusados. Entre os garotos os casos acabam sendo sempre menos expostos”, disse.

A coordenadora também pontuou o problema crônico enfrentado na faixa de fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, através da cidade de Oiapoque. A magistrada observa que existe uma grande rede de aliciamento e prostituição de menores. Na madrugada desta terça-feira, o delegado Charles Correa, da Polícia Civil, prendeu cinco pessoas e fechou um bar que servia como fachada para a rede de prostituição. No local foram flagradas duas menores, de 14 e 17 anos, que eram prostituídas. As duas garotas e outras jovens haviam sido levadas do município de Santana para Oiapoque.
“É um sistema que se aproveita de várias situações. As pessoas que cooptam essas menores ‘vendem’ sonhos para as famílias em vulnerabilidade social, afirmando que vão levar as meninas para trabalhos lícitos, mas quando chegam ao destino passam a viver em regime de escravidão. Infelizmente, em muitos casos os próprios pais, que também foram abusados um dia, incentivam e se beneficiam da prostituição dos filhos”, revela.
A juíza concluiu a entrevista pedindo que a sociedade se envolva no enfrentamento ao problema. “Em vários lugares, como na fronteira de Oiapoque, o braço do Estado não consegue alcançar todas as regiões. Por isso, é necessário o engajamento de todos. É importante que se observe os sinais apresentados por crianças e adolescentes. O comportamento deles muda rapidamente diante de um abuso. Muitas vezes as pessoas [vizinhos] percebem que algo está acontecendo na casa ao lado, mas ficam com medo ou vergonha de denunciar. Abuso é algo silencioso, mas que tem sinais e esses sinais precisam ser observados e denunciados”, concluiu.
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