Prefeito denuncia especulação eleitoreira contra destombamento de Serra do Navio
Elson Belo (AVANTE) considera retrocesso movimento para tornar sem efeito o reconhecimento pelo IPHAN à vila que já foi modelo arquitetônico do Brasil.

Cleber Barbosa
Da Redação
O prefeito de Serra do Navio, Elson Belo Lobato (AVANTE) denunciou nesta quarta-feira (6) o que considera especulação meramente eleitoreira para tentar tornar sem efeito o tombamento como patrimônio arquitetônico da vila de Serra do Navio, distante cerca de 200 quilômetros de Macapá. O reconhecimento pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) aconteceu em 2010.
A Câmara Municipal de Serra do Navio abrigou, na semana passada, uma audiência pública a pedido do movimento ‘Destomba Serra’, que argumenta que após 12 anos, o resgate das características arquitetônicas da cidade não aconteceu como prometido, ao contrário, emperrando o desenvolvimento e organização do lugar.
Para o prefeito, o movimento puxado pelo pré-candidato a governador Pastor Jeziel, apoiado por dois vereadores que o prefeito acusa de não morarem no município. “Na verdade, existe todo um cronograma de ações que o município vem obedecendo visando finalmente podermos usufruir dos benefícios que esse reconhecimento deverá trazer”, disse ele.
Medida assertiva
Em uma dissertação para o Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural, o pesquisador Charles Sena Santos, fez um elogio à medida de tombamento da histórica vila. “Refletir o binômio preservação e desenvolvimento a partir de um olhar atento às mudanças ocorridas com a transformação da Vila Serra do Navio, de cidade fechada para cidade aberta, mostrou-se bastante amplo e significativo”, disse ele.
Contexto histórico
A Vila Serra do Navio, no Amapá, surgiu da necessidade de abrigar o contingente de moradores da periferia da Vila Operária da Indústria e Comércio de Minério (Icomi), para fomentar atividade agrícola de subsistência. Construída entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960, era uma moderna cidade com infraestrutura de saneamento básico, água tratada, energia elétrica, residências confortáveis, aliada a uma completa rede de atendimento sociocultural: escolas, hospital, cinema, áreas esportivas e recreativas destinadas aos seus funcionários e familiares, sob a administração da Icomi.
Um projeto ambicioso de implantação – nos moldes de muitas vilas que surgiram na Inglaterra durante a Revolução Industrial – de uma Company Town ou Cidade de Companhia. Tratava-se de um núcleo urbano dirigido e controlado por apenas uma única empresa, cuja economia é ligada a uma só atividade empresarial. Com pouco mais de 3,7 mil habitantes, foi projetada pelo arquiteto brasileiro Oswaldo Arthur Bratke para abrigar os trabalhadores da Icomi, associada à empresa internacional Bethelehem. Bratke escolheu, pessoalmente, o lugar de implantação – a Serra do Navio em uma região localizada entre os rios Araguari e Amapari, e também programou áreas de expansão futura da vila, projetando-as integradas ao traçado e ao sistema viário. Concebeu o projeto para uma cidade completa e autossuficiente, verdadeira ilha no meio da floresta, que significou uma experiência precursora na Amazônia.
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