Wellington Silva

Cupixi, tragédia evitável?


 

Como evitar um desastre ambiental da proporção recentemente ocorrida no Estado do Amapá na área de garimpo localizada na região do Cupixi, município de Porto Grande?

 

O mau exemplo clássico no Brasil continua sendo a famigerada barragem de rejeitos de mineração denominada de “fundão”, localizada no município de Mariana, Minas Gerais, um empreendimento conjunto envolvendo a mineradora Samarco, Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, consideradas as maiores do ramo.

 

Porque a barragem de Mariana rompeu, assim como a do Cupixi, em Porto Grande?

 

No bom português direto ao ponto é o que nós popularmente podemos chamar de “galiqueira”, remendo mal feito, improviso, “arranjo”, obviamente optando-se pela economicidade para não gerar grandes gastos em investimentos necessários de segurança.

 

Eis, senhores, o ponto da questão!

 

Até que ponto a economicidade na segurança da atividade mineral pode sobrepor a saúde da segurança de vida da Mãe Natureza e da comunidade arredores?

 

Esta é a grande pergunta que não quer calar uma vez que até as grandes mineradoras, detentoras de grande capital, por vezes negligenciam a norma primaz de segurança para optar por algo mais barato. Algo que não implique em grandes custos e ignore o risco de uma grande tragédia ambiental.

 

A “galiqueira”, o remendo mal feito, o improviso, somada as fortes pancadas de chuvas, acabaram por provocar fissuras, fendas nas tais barragens de Mariana e agora, do Cupixi, tudo culminando em uma grande desgraça ambiental.

 

Haveria como prever tais desastres ou impedir o pior?

 

A perícia o dirá, no caso específico do Cupixi, mas creio certamente que sim, se houvesse mais cuidado com projetos de improviso, as atividades ilícitas e as absurdas articulações políticas.

 

Desde o Zoneamento Ecológico Econômico-ZEE que venho observando uma pressão do setor de mineração para “liberar geral” a atividade no Amapá, eles sempre com o velho argumento de melhora do PIB, geração de riquezas, etc e tal…

 

A questão de ordem que levantei no ZEE Amapá, em Macapá, no parque de exposições da Expofeira, é que a atividade de mineração pode ser uma boa opção desde que ela traga em seu bojo a boa segurança jurídica e ambiental com evidente retorno social para a comunidade. E bem sabemos que existe um abismo atual entre o ambientalismo cultural e o pensamento predador conservador bolsonarista.

 

O ambientalismo cultural defende a Mãe Natureza e se baseia no conceito da sustentabilidade ambiental através do conservacionismo ou do preservacionismo, dependendo da situação ambiental ou necessidade regulatória. Já o pensamento predador conservador bolsonarista simplesmente defende a exploração dos bens minerais a qualquer custo com o velho argumento de melhora do PIB e de geração de riquezas.

 

Eu sinceramente considero que não se pode falar de mineração sem a construção de um conjunto claro de regras normativas, padrões que devem nortear a atividade para maior segurança da Mãe natureza e da coletividade.

 

Sem isso, estaremos sempre nos deparando com tais desgraças, até que tudo se acabe, ou não!