Cidades

Divulgada Carta Manifesto de arquitetos e urbanistas negros do Amapá

Documento saiu de seminário recentemente acontecido em Macapá também com participação de acadêmicos dos dois ramos de conhecimento


 

Douglas Lima
Editor

 

Foi divulgada nesta segunda-feira, 5, a Carta Manifesto saída do Primeiro Seminário de Arquitetura de Profissionais e Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo Negros do Amapá, acontecido recentemente em Macapá.

 

Entre outros pontos, a Carta Manifesto reivindica o direito das comunidades periférica, preta, pobre e insurgente de participarem efetivamente das cidades invadidas por arranha-céus “que as destroem em nome do direito da propriedade absoluta, rompante e devastadora que subjuga o indígena, o escravizado, o pobre, o preto e o favelado”.

Acompanhe a Carta Manifesto:

POR UMA ARQUITETURA E URBANISMO DO NECESSÁRIO

Por que a propriedade é negada aos/às vulneráveis, se a propriedade é marcada por diferentes graus de irregularidade?

Propriedade, título, projeto…

E mesmo que a fé seja pública, a escritura ainda é uma mera conjectura.

Sonho caro e demorado, que não assegura o direito à cidade.  Um cenário de pura ilusão em tamanha desigualdade, precariedade. Invasão, passivo sem solução?

Enquanto arranha-céus invadem e destroem toda a cidade, em nome do direito de propriedade – absoluta, rompante, devastadora -, subjuga e expulsa o/a indígena, o/a escravizado/a, o/a pobre, o/a preto/a, o/a favelado/a.

Números, estatísticas, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), desafio do milénio?

Cidade injustamente formal, constituída em base desigual, ilegal, que não reconhece a cidade real, rotulada de informal, erguida com luta e suor.  AUTOCONSTRUÇÃO PURA, ignorada como solução, aos olhos vistos de toda nação.

Responsabilidade transferida, em terra pública repartida, serviços públicos em conta gotas. Questões socioambientais, sanitárias, habitacionais…, esquecidas em suas múltiplas dimensões e tipologias.  Inimagináveis pelo direito, pela justiça, pela polícia, pelas políticas.

Viva a casa frente e fundo, viva a casa puxadinho.  Palafitas e estivas, legitimas arquiteturas com várias faces e extensões.

Morram os rótulos e estigmas.  Abaixo todas as formas de violações.

Porque a fala não é técnica.  O conhecimento é de vivência.  O olhar é movimento. É resistência, é existência sociocultural.

Quem sente as dores da cidade é a comunidade: PERIFÉRICA, FAVELADA, PRETA, POBRE.  INSURGENTE!

Como lutar e resistir? Se o sistema invisibiliza, a estrutura desarticula, a informação não chega e os interesses são adversos.

A arquitetura é NECESSIDADE HUMANA.  O urbanismo é de SOBREVIVÊNCIA COMUNITÁRIA.

E o engajamento?

Ah, o ENGAJAMENTO exige o ATIVISMO SOCIOAMBIENTAL, como direito fundamental.

 

Carta Manifesto,

Reedição no 1º Seminário de Arquitetura de Profissionais e Acadêmicos

de Arquitetura e Urbanismo Negros do Amapá, abril 2025

Por Myrian Cardoso.

Professora e pesquisadora/UFPA.

Coordenadora e Artivista MultiverCidades da Amazônia

 

 


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