“É mais fácil dizer em qual ramo da economia o PCC não está”, diz promotor sobre a facção
Algoz da facção, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya está pessimista. Desde os presídios paulistas, o PCC nunca teve tamanho parecido ao de hoje — em faturamento, presença internacional e infiltração na economia formal.

Cleber Barbosa
Da Redação
A megaoperação que revelou o elo do PCC com o setor de combustíveis mostrou que, depois de controlar o tráfico internacional de drogas e contratos no setor público, o crime organizado se infiltrou no setor financeiro?
Lincoln Gakiya – Veja, não foi só com essa operação. Desde a Operação Sharks, detectamos a presença de fintechs que ajudavam a mandar o dinheiro do PCC através de doleiros para o Paraguai. Outras operações também demonstraram isso. No caso da Carbono Oculto, ficou claro que é uma operação bem mais sofisticada, porque não envolve apenas o PCC, mas também organizações criminosas que agem em conjunto com o PCC na adulteração de combustível, sonegação de impostos e fraude ao consumidor.
O esquema de lavagem de dinheiro serve ao PCC, mas não é exclusivo dele. Que outros grupos criminosos se valem destes mecanismos?
Lincoln – É toda sorte de criminosos. A máfia dos combustíveis não é formada só pelo PCC. Às vezes, há empresários que não são batizados pelo PCC, mas que operam em associação à facção ou mantêm negócios com ela. Esses criminosos procuram facilidades e baixo risco, e é isso que encontram nessas fintechs.
O senhor pode detalhar a conexão dos acusados na Operação Carbono Oculto com o PCC?
Lincoln – Não posso detalhar, porque essa operação não é minha, é de colegas do MP. Mas, genericamente, havia empresários no setor de combustível — refinarias, usinas, importação de metanol e outros componentes — que acabaram se ligando a integrantes do PCC. Empresários ligados ao PCC ou que se associaram a integrantes da facção atuavam seja nos postos, seja na compra de usinas.
O PCC começou a lavar dinheiro há pelo menos uma década comprando postos de gasolina e agências de automóveis. É possível saber em quantos setores da economia formal o PCC está hoje?
Lincoln – Não, é impossível. O PCC já pode ser classificado como uma organização mafiosa. Não precisa mais da ostensividade da violência, exibindo fuzis e praticando crimes cinematográficos. Ele já passou dessa fase, está ganhando muito dinheiro, principalmente com o tráfico internacional de cocaína para a Europa. Esse dinheiro volta e precisa entrar na economia formal. Antigamente, o PCC montava empresas de fachada, mais simples de detectar. Agora, as empresas são lícitas, têm funcionários, prestam serviços reais e têm capital da facção. É muito difícil dimensionar em que negócios o PCC está. É mais fácil dizer em qual ramo da economia ele não está.
No ano passado, houve incêndios em plantações de cana no interior de São Paulo e cogitou-se a hipótese de episódios criminosos. Há relatos de que a facção ameaça proprietários de fazendas para comprar terras mais baratas. Essa investigação esclareceu isso?
Lincoln – É preciso separar o joio do trigo. Nem todo o setor de usinas, inclusive nessa operação, é operado diretamente pelo PCC. Há conexões com a facção. Agora, há relatos de proprietários de usinas e postos que foram ameaçados ou constrangidos a vender seus negócios para grupos criminosos ligados ao PCC. O PCC está associado a alguns grupos, mas há uma máfia gigante no setor de combustíveis que precisa ser apurada.
Como funciona essa ligação com o PCC?
Lincoln – O empresário é batizado no PCC? É integrante ou líder? Me parece que não. Ele pode estar associado, sem ser integrante da facção — e estou falando aqui genericamente, não de uma operação. Vinícius Gritzbach, por exemplo, não era integrante do PCC, mas operava para ele, sendo um elo essencial. No caso das usinas, para adulterar combustível, vender combustível adulterado ou fraudar notas fiscais, era preciso se associar a quem estava na ponta. O PCC tem integrantes atuando em postos de combustíveis. Se o empresário A ou B é integrante do PCC, os colegas que vão dizer. O resultado é o mesmo: uma cadeia logística criminosa operada pelo PCC.Esse texto foi copiado do Blog do Gustavo Negreiros. Para ter acesso completo a matéria acesse gustavonegreiros.com.br.
Ventilou-se a possibilidade de a operação chegar a políticos. Isso vai acontecer?
Lincoln – O PCC tem todo o interesse, estando na economia formal, de participar dessa fatia do bolo, ou seja, de licitações ou dos negócios públicos. Quando você elege representante, seja no Legislativo, seja no Executivo, você vai cobrar a conta depois.
Perfil
Lincoln Gakiya é Promotor de Justiça brasileiro. Integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo, em Presidente Prudente. Investiga há duas décadas o Primeiro Comando da Capital (PCC).
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