Nota 10

‘Cada leitor vale mais que um milhão de TikToks’, diz Xico Sá durante Folia Literária Internacional do Amapá

Escritor debateu os desafios da literatura contemporânea e o papel do cronista em tempos de informação rápida


 

A 3ª edição da Folia Literária Internacional do Amapá, promovida pelo Governo do Estado, trouxe na sexta-feira, 3, reflexões profundas sobre literatura e sociedade com a roda de conversa “Terra em Transe: Limites da Arte e da Política”, realizada no Auditório 1, Barracão das Palavras.

 

O encontro contou com uma intervenção poética de Francisca Kaunna e mediação de Yurgel Caldas, reunindo três importantes nomes da literatura brasileira: o cearense Xico Sá, o amapaense Elton Tavares e o baiano Franciel Cruz.

 

 

Logo no início, Xico Sá falou sobre os desafios de escrever em um mundo dominado por vídeos curtos e redes sociais:

“Cada leitor que conseguimos tocar é uma conquista gigante. Talvez valha mais do que milhões de visualizações rápidas. O nosso papel é o anti-viral, o papel do velho Quixote”, destacou o escritor.

 

Ele também compartilhou aspectos da trajetória e a importância das experiências vividas para a construção da paixão pela literatura:

“Sou daqueles sujeitos do interior, um leitor improvável, que cresceu sem livros em casa. Mas foi a experiência com professores e a oralidade da minha região que me transformaram. Hoje, sou, sobretudo, um cronista: acordo, olho o cotidiano e transformo essas pequenas coisas em crônicas, tentando sempre provocar reflexão.”

 

 

O baiano Franciel Cruz complementou o debate destacando o valor de desacelerar em tempos de velocidade e superficialidade:

“A grande luta é contra a pressa, contra a lógica da produção acelerada. É preciso contemplar, refletir e deixar que as palavras fluam, construindo sentido e resistência”, afirmou.

 

O jornalista e escritor amapaense Elton Tavares reforçou a importância de valorizar os chamados “leitores improváveis”:

 

 

“Mesmo sem livros em casa ou acesso frequente à literatura, é possível despertar o gosto pela leitura. Esses leitores surgem nos lugares mais inesperados, e é para eles que escrevemos, buscando tocar, provocar e inspirar.”

 

Xico Sá ainda compartilhou memórias da infância no interior do Ceará e relembrou a influência de professores e familiares na formação de leitores improváveis, concluindo que a literatura é uma “guerra apocalíptica”, mas também uma vitória íntima sempre que consegue alcançar um leitor.

 

A roda de conversa integrou a programação da Folia Literária Internacional do Amapá 2025, que homenageia a professora Ângela de Carvalho e o escritor Paulo Tarso Barros. O evento inclui lançamentos de livros, feira literária, oficinas e apresentações musicais. O Parque do Forte, em Macapá, foi adaptado para receber os diversos ambientes da programação, promovendo a convivência direta com autores, debates literários e experiências formativas.

 

 


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