Nota 10

Prefeitura de Macapá celebra cultura e identidade negra com programação especial no Largo dos Inocentes

A programação do Novembro Negro segue ao longo do mês com atividades educativas, culturais e científicas


 

A Prefeitura de Macapá realizou, na sexta-feira (7), uma programação especial no Largo dos Inocentes, em alusão ao Novembro Negro, mês dedicado à valorização da cultura afro-brasileira e ao combate ao racismo. O evento, intitulado “Fim de Tarde no Largo”, reuniu apresentações de grupos de marabaixo, artistas locais e a tradicional Feira Preta, que movimentou a economia criativa e afroempreendedora da capital.

 

Durante a programação, também ocorreu a entrega dos resultados de DNA do Projeto Genoma do Brasil, desenvolvido em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). A ação integra o compromisso da Prefeitura de Macapá em promover o reconhecimento da ancestralidade e fortalecer a identidade negra por meio da ciência, da cultura e das políticas públicas.

 

Para a diretora-presidente do Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), Cristina Almeida, o evento representa mais do que uma celebração: é um gesto político e simbólico de fortalecimento da memória do povo negro amapaense, importante para a ampliação de políticas públicas que reparem a população negra.

 

A pesquisadora Kelly Nunes, doutora em Genética pela Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Projeto DNA do Brasil, explicou que a iniciativa nasceu do incômodo com a baixa representatividade de pessoas não europeias nos estudos genéticos e nas aplicações científicas voltadas à saúde.

 

 

“O projeto nasceu de uma indignação nossa, como pesquisadores, ao perceber que a maioria dos estudos genéticos e das aplicações em saúde é feita para populações de origem europeia. A maior parte da população mundial — e especialmente a brasileira — não é europeia. Precisamos tornar a genômica mais representativa e inclusiva”, destacou.

 

Kelly contou que o projeto chegou ao Amapá a partir do diálogo com a diretora do Improir, Cristina Almeida, que apresentou a importância de incluir a população negra amapaense na pesquisa.

 

“A Cristina procurou o projeto, apresentou a população negra do Amapá para nós, e nos encantamos pela história e pela riqueza dessa região. É um território pouco conhecido cientificamente, com uma trajetória riquíssima para contar e descobrir. Estamos muito felizes por fazer parte disso”, afirmou.

 

Desde o início das coletas, em maio de 2024, o projeto já realizou três etapas de devolutivas e análises em Macapá.

 

 

“Começamos as coletas em maio de 2024, fizemos a primeira entrega em novembro do mesmo ano e retornamos em maio de 2025 para uma nova rodada de resultados. Agora, realizamos a terceira entrega referente à coleta de novembro passado”, explicou.

 

Ao comentar os resultados parciais das análises genéticas no Amapá, a pesquisadora destacou descobertas importantes sobre as origens africanas das populações locais.

 

“Quando comparamos com outras regiões do país, como o Sudeste, percebemos diferenças significativas. Aqui no Amapá, a ancestralidade africana tem uma contribuição mais expressiva de regiões como Nigéria, Benin e Senegal, enquanto no Sudeste predominam origens de Angola e Moçambique. Isso mostra o quanto a formação do povo brasileiro é diversa e regionalmente distinta”, pontuou.

 

A coordenadora do Departamento de Promoção da Saúde, Auracilene Rocha, ressaltou o papel da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), no apoio logístico e técnico ao projeto e destacou a importância da iniciativa para o fortalecimento da saúde da população negra.

 

 

“O projeto DNA do Brasil é de suma importância quando pensamos em construir saúde voltada à população preta do Amapá, especialmente do município de Macapá. A Secretaria atuou com estratégias para alcançar as comunidades quilombolas e garantir que elas participassem da pesquisa, realizando a coleta de DNA e contribuindo com esse mapeamento histórico e genético do povo preto brasileiro”, explicou.

 

Auracilene relatou que as equipes da Saúde Municipal atuaram diretamente nas comunidades quilombolas e urbanas, garantindo o acesso da população à pesquisa.

 

“Disponibilizamos transporte e nossas equipes foram até comunidades como Anauerapucu, Abacate da Pedreira, São Pedro dos Bois, Santo Antônio da Pedreira, Curiaú e também áreas urbanas como o Goiapu. Buscamos envolver patriarcas e matriarcas das famílias para que o rastreamento genético fosse o mais completo possível”, contou.

 

A coordenadora, que também participou da pesquisa, destacou o impacto simbólico do projeto.

 

“Nós, pessoas pretas, carregamos uma angústia ancestral de não saber de onde viemos. Quando recebi o meu resultado e descobri minha origem no continente africano, senti que estava me reconectando com a minha história. Esse projeto traz pertencimento e empoderamento, fortalecendo nossa identidade e também a forma como pensamos o cuidado em saúde”, afirmou.

 

Entre os participantes, a professora Thaylana Soraya da Silva Jucá, 43 anos, moradora de Macapá, recebeu seu resultado de DNA durante o evento e compartilhou o significado desse momento de descoberta.

 

 

“Eu já me identificava como mulher negra, mas sempre tive o desejo de saber de onde vieram meus ancestrais. O continente africano é enorme e diverso, cultural e historicamente. Saber de onde viemos fortalece nossa identidade e o orgulho da nossa negritude. Esse momento é muito importante porque nos faz entender melhor quem somos e valorizar ainda mais nossas origens”, afirmou.

 

As ações desta sexta-feira reforçam o compromisso da Prefeitura de Macapá, por meio do Improir, com a valorização da cultura afro-macapaense e o enfrentamento ao racismo. A programação do Novembro Negro segue ao longo do mês com atividades educativas, culturais e científicas em escolas, comunidades quilombolas e espaços públicos.

 


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