Mina, porto e ferrovia estão no pacote da retomada da mineração no Amapá, diz Pitaluga
Presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico, Wandemberg Pitaluga, detalha negociações com a DEV Mineração, retomada gradual do Sistema Amapá e papel estratégico da logística.

Cleber Barbosa
Da Redação
O Amapá voltou ao radar de grandes investidores internacionais do setor mineral. Em entrevista neste sábado (13) ao ‘Programa Conexão’, da Rádio Diário FM, direto de Guarulhos, logo após retornar de reuniões em Londres, o presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico, Wandemberg Pitaluga, confirmou que a DEV Mineração foi devidamente habilitada no processo de recuperação judicial da Zamin e já realizou um aporte inicial, sinalizando disposição concreta para retomar o projeto do Sistema Amapá.
Segundo Pitaluga, o processo de retomada não começou agora. Ele vem sendo construído desde dezembro do ano passado, com uma estratégia definida em conjunto com o governador Clécio Luís para restaurar a confiança dos investidores e resolver pendências históricas que cercavam a operação mineral no estado. “É um trabalho longo, silencioso e extremamente técnico”, explicou. “A mineração é uma atividade complexa, de alto investimento, e o Sistema Amapá carregava um estigma por conta de tentativas frustradas no passado e do acidente no porto. Nosso foco foi criar um ambiente de segurança e previsibilidade”.
Retomada por fases
A estratégia definida pelo Governo do Estado prevê a retomada da mineração em etapas. O plano começa pela reativação de uma mina menor, conhecida como Azteca, com potencial de cerca de 1,5 milhão de toneladas. A partir daí, a operação ganha fôlego para avançar sobre a mina principal, que tem capacidade estimada em 5,5 milhões de toneladas.
A proposta, segundo Pitaluga, permite a geração imediata de empregos, movimenta a economia local — especialmente em Pedra Branca do Amapari — e cria as condições necessárias para que a operação volte a ganhar escala de forma sustentável.
Aporte internacional e governança
Um dos investidores envolvidos no projeto é a Cadence, empresa listada na Bolsa de Londres, o que exige rigor jurídico e transparência em cada etapa do processo. Para viabilizar a primeira fase da retomada, foi realizado um levantamento de capital de cerca de 6 milhões de dólares no mercado internacional. “Já tivemos investidores visitando o Amapá, conhecendo a mina, entendendo o projeto de perto. Isso mostra que não se trata de especulação, mas de um movimento profissional, com governança e compromisso”, destacou.
Ferrovia e porto: peças-chave
A logística segue como um dos principais desafios — e também como parte central do plano. Pitaluga confirmou que a retomada da ferrovia e a reestruturação do porto da DEV, em Santana, fazem parte do escopo do projeto, embora aconteçam de forma gradual, conforme a operação mineral ganhe escala.
Ele citou exemplos claros da diferença de custos logísticos: enquanto o transporte rodoviário pode chegar a cerca de U$ 90 por tonelada, o transporte ferroviário já operou no passado com valores próximos a U$ 18 (dólares) por tonelada — uma diferença que pode definir a viabilidade econômica do empreendimento. “O minério de ferro só fecha a conta com trem. A ferrovia é o canal natural de escoamento. Isso está muito claro para os investidores”, afirmou.
Amapá no centro do debate global
Durante as reuniões em Londres, Pitaluga se disse surpreendido pelo grau de conhecimento que grandes fundos internacionais têm sobre o Amapá. Segundo ele, o estado é visto hoje como um território estratégico, não apenas pelo potencial mineral e energético, mas também pela posição logística privilegiada e pelos altos índices de preservação ambiental. “O mundo está falando do Amapá. Os investidores conhecem nossos números, sabem que somos o estado mais preservado do Brasil e reconhecem a forma como o governo tem conduzido temas sensíveis, como o licenciamento ambiental e o diálogo com povos indígenas”, pontuou.
Mineração, petróleo e sustentabilidade
Questionado sobre a aparente contradição entre preservação ambiental e exploração de recursos como mineração e petróleo, especialmente em um contexto global marcado pela Conferência do Clima, Pitaluga foi direto: o Amapá busca se posicionar como um ‘case’ de desenvolvimento responsável. “O nosso petróleo é verde, e agora o mundo também começa a falar em ‘minério verde’. Isso vem da nossa capacidade de conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental, diálogo social e segurança jurídica”, explicou.
Novos anúncios a caminho
Ao final da entrevista, o presidente da Agência Amapá de Desenvolvimento Econômico adiantou que novas boas notícias devem ser anunciadas nas próximas semanas, envolvendo captação de recursos, projetos logísticos e avanços na gestão integrada das secretarias estaduais. “O Amapá vive um momento muito positivo. Estamos construindo bases sólidas para atrair investimentos que tragam resultados reais para a população”, concluiu.
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