Educação no Amapá, as lições de um novo tempo
Mais do que criar escolas, projeto de Janary Nunes plantou sementes de nova mentalidade: a de que educar é construir futuro

Evandro Luiz
Da Redação
Sob o governo de Janary Nunes, o território federal do Amapá deu os primeiros passos para transformar uma população majoritariamente analfabeta em uma sociedade voltada para o conhecimento e o progresso.
Logo após tomar posse como governador, Janary traçou um plano estratégico para desenvolver o recém-criado território federal do Amapá. Entre as prioridades do governo estava a educação, vista como o principal alicerce para o crescimento social e econômico da região.
Na época, a situação era desafiadora. A maioria da população de Macapá era analfabeta. Com cerca de 26 mil habitantes, a cidade contava com apenas sete escolas, todas em condições precárias. Não havia escolas particulares, nem as tradicionais escolas paroquiais — que só surgiriam na década de 1960.
Primeiros passos e grandes desafios
O sistema educacional local era limitado: havia 2.264 alunos matriculados na rede pública, distribuídos entre o ensino infantil (135), primário (172) e supletivo (400). Apenas 49 professores atuavam em todo o município.
Diante dessa realidade, Janary Nunes criou uma estrutura administrativa voltada para o setor, com destaque para a Divisão de Educação, responsável por planejar e executar ações que dariam origem à rede escolar nos demais municípios.
O desafio era formar mão de obra qualificada e estabelecer uma estrutura educacional sólida. A promulgação das Leis Orgânicas do Ensino, especialmente a que permitiu a criação de uma Escola Normal, marcou o início de uma nova etapa na história da educação amapaense.
Formar professores, formar futuro
O trabalho de estruturação foi árduo. Faltavam professores habilitados e espaços adequados para as aulas. Mesmo assim, novas escolas começaram a surgir e o corpo docente passou a ser capacitado por meio de programas de elevação cultural.
As crianças também passaram a participar de associações de escoteiros, fortalecendo valores como disciplina e civismo. A graduação escolar foi padronizada e adaptada à realidade local. A partir daí o governo passou a criar escolas que ensinavam ofícios e profissões, integrando o ensino teórico ao prático.
A Escola Normal: o berço da docência
A Escola Normal tornou-se um símbolo da época. Sua missão era formar professores e combater o analfabetismo. A instituição também foi responsável por ampliar o acesso das mulheres à educação formal.
De saia azul e blusa branca, as normalistas se tornaram ícones de uma geração que ajudou a construir o futuro do Amapá, abrindo caminho para a profissionalização feminina e a valorização do magistério.
O ensino técnico e a educação profissional
Com a necessidade de profissionais na área contábil, e atendendo a um pedido da Associação Comercial do Amapá, foi criada em 1949 a Escola Técnica do Comércio do Amapá, voltada à formação técnica e profissional. Era o início da educação profissionalizante no território.
Outro destaque foi a Escola Doméstica de Macapá, destinada a meninas e jovens órfãs ou de famílias de baixa renda. O objetivo era capacitá-las para o trabalho doméstico, o artesanato e a gestão do lar. Além da formação religiosa e moral, as alunas aprendiam a gerar renda e contribuir para a economia familiar — uma forma de unir educação e desenvolvimento social.
A Escola Industrial e o ‘novo homem’ amapaense
Entre as instituições criadas naquele período, a Escola Industrial de Macapá teve papel de destaque. Inspirada no discurso de modernização do país, a escola tinha como meta formar um “novo homem” — disciplinado, produtivo e preparado para os desafios da industrialização e da urbanização da capital.
A educação, naquele contexto, era vista como ferramenta de transformação social. O governo apostava na escola como instrumento para combater o analfabetismo, mudar hábitos e valores, qualificar a mão de obra e fortalecer a moral familiar e os valores nacionalistas.
O Colégio Amapaense: o ‘Colégio Padrão’
O Colégio Amapaense, também conhecido como Colégio Padrão, foi outra peça fundamental na construção do ensino amapaense. Sua principal função era preparar os alunos para o ingresso nas universidades, que ainda não existiam em Macapá.
Os estudantes precisavam viajar até Belém para prestar vestibular — e se destacavam tanto que, segundo relatos da época, os paraenses “não ficavam muito satisfeitos com a invasão dos amapaenses na terra das mangueiras”.
Um legado que resistiu ao tempo
As primeiras ações educacionais do governo de Janary Nunes lançaram as bases do sistema de ensino do Amapá. Entre dificuldades e conquistas, aquele período marcou o início de uma trajetória de transformação, que fez da educação o principal pilar de desenvolvimento humano e social do território.
Mais do que criar escolas, o projeto educacional de Janary plantou as sementes de uma nova mentalidade: a de que educar é construir futuro.
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