Política

Promotor de justiça admite que o crime organizado já está instalado no Amapá

Em debate no rádio sobre o crescimento da violência Iacy Pelaes disse que a sociedade precisa repensar as suas atitudes quando aplaude a morte de acusados de crimes em confrontos, porque quando o policial mata sem que a legítima defesa esteja presente ele acaba se nivelando aos bandidos.


Durante debate sobre a escalada da violência no Amapá neste sábado (04) no programa Togas&Becas (DiárioFM 90,9) apresentado pelo advogado Helder Carneiro, tendo na bancada os também advogados Wagner Gomes e Evaldy Mota, o promotor de justiça Iacy Pelaes, titular do Ministério Público na Vara Única do Tribunal do Júri de Macapá admitiu que o crime organizado já está instalado no Amapá e alertou para a necessidade da sociedade repensar as suas atitudes quando o policial mata sem que a legítima defesa ou o estrito cumprimento do dever legal estejam presentes, sob pena de ele se nivelar aos bandidos.

“É preciso sociedade repensar quando aplaude a morte de acusados de crimes em supostos confrontos, porque quando o policial mata sem que a legítima defesa ou o estrito cumprimento do dever legal esteja presentes ele acaba se nivelando aos bandidos, tornando-se um criminoso comum. Mas é necessário também levar em conta que alguns casos ocorrem porque temos agora um crescimento bastante alto do mercado de drogas na periferia de Macapá, principalmente nas áreas de ressaca, inclusive com a presença de facções criminosas. Nós já temos ‘batismos’, entre aspas, de facções do Rio de Janeiro e de São Paulo aqui, ‘batismo’ esse que vincula um determinado líder criminoso local com facções de fora; já existe, isso é fato, por isso não só a polícia, nós do Ministério Público, do Judiciário, todos os envolvidos na justiça criminal e a sociedade devemos repensar a forma de atuação diante de novos fatores que estão presentes na periferia de Macapá”, alertou Pelaes.

O promotor reclamou da influência da mídia, principalmente da televisão, para o crescimento da violência: “É preciso destacar também que a mídia exerce grande influência para a banalização e o conseqüente crescimento da violência, principalmente a televisão, como a Rede Globo e tantas outras emissoras com determinados programas sendo usados para desenvolver a violência simbólica principalmente entre o público jovem, o adolescente, que é o mais frágil, e por isso é  quem mais sofre essa pressão e absorve toda essa carga da violência simbólica passada por imagens, incorpora aquilo e vai adotar como prática do dia a dia como fosse normal; vai usar arma de fogo, praticar violência nas relações cotidianas. A televisão contribui de forma muito forte para isso”.

Punição aos excessos

O desembargador João Guilherme Lages, que também participou do debate, defendeu a necessidade de melhor preparar os policiais para o combate ao crime, em especial no que diz respeito ao conhecimento da legislação e a punição de excessos nas ações: “É imperioso também preparar os policiais que estão nessas ações. Como é que uma pessoa com dois cartuchos na arma, um dos quais, deflagrado, como acontece sempre, pode ter tido confronto? Eu estive recentemente comando geral da Polícia Militar, na realidade fomos duas vezes lá buscar meios para eles operacionalizarem e fazerem um serviço ainda melhor, e senti o comando geral, todos os oficiais felizes pela aproximação do Judiciário; o Ministério Público tem que fazer isso também, não para montar estratégia, mas mostrar o que é o Direito, porque muitas vezes lá na frente o PM pensa que está no exercício do estrito cumprimento do dever legal e não preenche os requisitos em determinadas ações. Quando eu estava no Júri eu percebia em vários processos que dava pra cercar e trazer o sujeito vivo. Eu acho que não podemos nos vangloriar porque nossa policia mata, mas a grande maioria não mata; a grande maioria são homens honrados, trabalhadores, pais de família. Ee não podemos aplaudir porque a policia está matando. E o policial que eventualmente cometa crime contra a vida fora das excludentes de ilicitude tem que ser punido, porque ele não se diferencia do criminoso comum”.


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