Dom Pedro Conti

Basta olhar os dedos da mão


A catequista ensinava às crianças: “Rezar é a coisa mais simples deste mundo. Basta olhar os dedos da mão. O polegar é o dedo mais próximo, nos lembra de rezar pelas pessoas mais queridas e que estão mais perto de nós. O índicador serve para indicar. Representa todos aqueles e aquelas que nos ensinam e que tem responsabilidade sobre nós. O médio é o maior, por isso devemos lembrar as pessoas importantes, as autoridades, em todos os setores da vida. O anular é o mais fraco e representa os enfermos, todos aqueles que estão com dificuldades. Rezamos por eles. Enfim, o mindinho é o menor, nos ajuda a lembrar os pequenos e todas as pessoas que não levamos em consideração, que são esquecidas. Bom – concluía a catequista – se me virem olhando as minhas mãos fiquem sabendo que estou rezando”.

O evangelho de João deste Quarto Domingo de Quaresma nos convida a olhar para Jesus “levantado” na cruz. A comparação vem de um episódio narrado no livro dos Números (21,4-9). Na ocasião, o povo de Israel sofreu um castigo por parte de Deus, mas, ao reconhecer a sua culpa, recebeu também a cura pela intercessão de Moisés. Os mordidos pelas serpentes venenosas deviam olhar para uma serpente de bronze levantada numa haste e ficavam curados. Quanto mais agora, explica o próprio Jesus a Nicodemos, quem crer no Filho do Homem terá a vida eterna. Com efeito, Deus não quer a morte dos homens, mas que tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10). O mundo, por errado que seja, pode ser salvo, com a condição de confiar e seguir aquele que o Pai amorosos enviou. Aqui aparecem novamente os contrastes do evangelho de João: vida e morte, luz e trevas, salvação e condenação, ações boas e ações más, preferir e odiar. No fundo, a mensagem é sempre a de um convite à decisão. As meias medidas, que são as nossas incertezas e fraquezas, devem deixar o lugar a adesão de fé plena no Filho, “a luz que veio ao mundo” (Jo 3,19). No entanto, Jesus continua: “…os homens preferiram as trevas à luz…” E depois (v.20): “Quem pratica o mal odeia a luz”. Quem olha para o Crucificado deve saber por que o faz. Também aqueles que não o olham mais ou o escondem.

O apóstolo Paulo nos ensina muitas coisas sobre a cruz de Jesus. Pode ser escândalo para os judeus, loucura para os pagãos ou poder e sabedoria de Deus (1 Cor 1,23-24).

“O que para o mundo é sem prestígio e desprezível Deus o escolheu, aquilo que é nada, para anular aquilo que é” (1 Cor 1,28). Na frente da cruz, somente, podemos baixar a cabeça e se olharmos para o Crucificado é para lhe pedir perdão, e assim nos deixar alcançar pelo seu amor total, amor ainda hoje, e sempre, desprezado e humilhado.
A cruz de Jesus incomoda, porque nós todos sonhamos com grandeza, sucesso, luxo e poder, invejamos os ricos deste mundo. Temos dificuldade a entender que toda riqueza acumulada tem o seu custo de sofrimento, exploração e miséria e, talvez, também de destruição e sangue. O mundo e a sua propaganda nos ensinam que os que fazem parte da elite poderosa são os vencedores; o restante da humanidade são os fracassados, os inúteis, os que morrem imaginando chegar aonde nunca chegarão.

Abraçando a cruz, Jesus, rosto humano de Deus, coloca-se do lado dos sofredores, dos excluídos, daqueles que podem desaparecer porque não contam, não consomem, não produzem. São todos aqueles que os abastecidos consideram somente um peso para a sociedade. Não entra na nossa cabeça ambiciosa porque o Crucificado não ganha pelo poder, não desce da cruz para esmagar o s seus inimigos. Ele desiste de todos os seus poderes para não humilhar e nem afastar ninguém, nem os que o levaram até a cruz com as suas calúnias, medos e mentiras. Este é o nosso Deus e Senhor, Jesus, o derrotado vencedor, o humilhado glorioso, o malfeitor inocente, o condenado que perdoa os que o matam.

Como a boa catequista, olhamos as nossas mãos para a aprendermos a rezar, mas, sobretudo, levantamos os olhos a Jesus crucificado para aprender a amar como ele nos amou e nos ama sempre.